[ANÁLISE] Death In June - "Peaceful Snow / The Maverick Chamber" [7'' - 2010]
Extremocidente
Havia um conjunto de expectativas em redor deste disco, desde o momento em que foi anunciado. Primeiro, porque há alguns anos que os Death In June não publicavam material novo. Depois, porque o último registo não tinha sido propriamente o melhor da sua carreira. Finalmente, porque estava anunciada uma mudança de sonoridade para o seminal projecto. É muito frequente expectativas altas minarem trabalhos genericamente positivos, mas neste caso talvez aconteça o contrário - a expectativa era um pouco céptica, e isso funciona a favor desta novidade.
O que aqui temos são duas faixas (uma em cada lado do vinil) em que as guitarras desaparecem da sonoridade dos Death In June, sendo substituídas pelo piano. A primeira observação é que a interpretação é superiormente conduzida por Miro Snejder, o que funciona imediatamente como ponto positivo. As composições são também bastante despidas de subterfúgios e resultam, portanto, bastante directas - para além do piano, apenas uns ocasionais efeitos sonoros complementam as músicas. É a proverbial lâmina de dois gumes - se tudo resultar bem o impacto directo é tremendo, mas não há por onde esconder composições menos bem conseguidas. Felizmente que a primeira opção é a que prevalece.
"Peaceful Snow" é a melhor faixa do par, com uma letra cativante e muito bem cantada por um Douglas P. recheado de emoção mas mantendo um timbre suave e melódico. "The Maverick Chamber" é mais difusa, com momentos menos interessantes na composição, quase como altos e baixos sem nunca estabilizar num plano que nos permita realmente apreciá-la. São ambas músicas melancólias, introspectivas, bem apropriadas para o tempo frio que se avizinha - imagino ouvir este disco à lareira. Se a direcção futura dos Death In June é assinalada por "Peaceful Snow", com uma excelente composição ao piano e elementos adicionais nos sítios certos, nada temos a temer.
Alguns talvez argumentarão que estes não são os Death In June de outrora, e têm razão. São o resultado de uma evolução natural, em que a diferença não é má mas apenas... diferente. Há aqui material de qualidade bastante alta, o suficiente para olharmos com optimismo para o próximo trabalho de Douglas P., e resta-nos esperar que o seu percurso continue a ser trilhado com trabalhos de qualidade superior. Para já fica o registo de um disco interessante e que serve como ponte para o que há-de vir.
Lurker