[EVENTO] Festival Entremuralhas - Dia 3
E eis-nos já chegados ao último dia do Festival Entremuralhas 2013. Na prática ao escrever estas linhas ele já acabou, mas deixemos as tecnicalidades de parte por agora. Interessa é relembrar uma das melhores edições do festival e que teve neste último dia mais um conjunto de grandes concertos (já depois de ter feito o mesmo nos dias anteriores). A começar logo por Roma Amor, também em estreia no nosso país, e que nos deixaram impressionados com uma grande actuação.
O principal destaque tem que ser dado a Michele, que não só é uma excelente vocalista e música, como também é uma magnífica comunicadora. A sua capacidade de diálogo com o público tornou a actuação ainda mais especial, e essa empatia funcionou em pleno com a música do duo Italiano. Sempre com uma grande sensibilidade e melancolia romântica, as suas músicas funcionaram em pleno na envolvência da Igreja da Pena e foram multiplicadas de intensidade por um factor inesperado.
Percorrendo toda a sua discografia e arranjando ainda espaço para uma versão de "Amesterdam", a intensidade da sua actuação foi premiada com um encore que não estava previsto, e que obrigou Michele a regressar ao palco para interpretar "Occhi Neri" do seu disco homónimo. Saíram tão impressionados com o público Português como nós com a sua actuação. Voltarão certamente em breve.
Talvez a mais agradável e interessante surpresa do festival tenham sido os Die Selektion. Principalmente porque não os conhecíamos tão bem como muitas das outras propostas, mas também por terem uma sonoridade mais "desviada" do padrão que podemos encontrar no palco da Igreja da Pena. Mas o facto é que a sua electrónica dançavel misturada com um trompete e uma voz peculiar funciona muito bem.
A coisa nem lhes começou a correr muito bem, com a actuação a começar bastante atrasada devido a problemas técnicos, mas o trio Germânico compensou muito bem esse efeito negativo com um entusiasta e intenso concerto, dando provas da sua energia em palco e mostrando-nos que merecem ser mais conhecidos. Pela nossa parte ficou sem dúvida a vontade de revisitar a discografia, pese não ser ainda muito extensa, e ficar atento ao que farão no futuro. Certamente boas coisas se avizinham para os Die Selektion.
Passando para o Palco Alma, coube aos Naevus a tarefa de abrir o palco depois de jantar. E fizeram-no logo com uma das mais intensas actuações do festival, para não deixarem os créditos por mãos alheias. O colectivo liderado por Lloyd James é uma daquelas bandas que ou se adora ou se odeia, há pouco espaço para meios termos. Há quem não os entenda, mas felizmente que estamos no extremo oposto do espectro e pudemos vibrar com um grande concerto!
Num excelente momento de forma, e com um disco ainda tão recente que não estava disponível no festival, os Naevus mostraram como é que com uma bateria, duas guitarras, um baixo e alguns samples discretos se monta uma cacofonia em palco capaz de nos fazer mexer enquanto houver música no ar. As suas composições são complexas mas muito directas no sentimento que transmitem, e com um excelente som com que foram beneficiados tudo resultou muito bem em cima de palco. Comunicação q.b. com o público, mas a destilar grandes temas uns atrás dos outros, este foi outro dos momentos altos do festival.
Quem infelizmente não gozou das melhores condições sonoras foram os Qntal. De regresso a Leiria oito anos depois da sua última actuação, a multiplicidade de instrumentos em cima do palco tornaram mais complexa a mistura, que resultou bastante desequilibrada. A bateria demasiado presente, quase ensurdecedora, o violino a ouvir-se apenas depois da primeira música passada, os instrumentos mais "esotéricos" quase a não serem ouvidos de todo, foi pena não termos tido as melhores condições sonoras para apreciar uma excelente banda.
Que mesmo assim não deixou de dar um grande concerto. A sua sonoridade particular de electrónica misturada com música medieval é contagiante, e a presença em palco principalmente de Michael Popp e Sigrid Hausen reforçam a ligação com o público. Se isso não fosse suficiente, as suas músicas fazem o resto. Talvez geniais não seja exagerado, os Qntal funcionam realmente num "campeonato à parte".
Tivemos ainda oportunidade de recuperar fragmentos da história do nascimento do Movimento Gótico na Alemanha, cortesia de Popp, e de no encore a banda obrigar Sigrid a cantar "Flamma", uma das músicas que menos gosta dos Qntal. Sempre um espírito divertido e de celebração, que se enquadra na perfeição no que representa o Festival Entremuralhas.
Não podíamos acabar sem agradecer a toda a organização do festival pela oportunidade que nos dão anualmente de ver em Portugal algumas das melhores bandas da actualidade nos seus estilos particulares, sempre dentro das sonoridades que mais apreciamos. É um trabalho que por vezes passa despercebido, mas que merece todo o nosso reconhecimento e gratidão. Um grande abraço para todos, e votos de nos voltarmos a encontrar em Leiria para a edição de 2014 do Festival Entremuralhas!
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