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domingo, 13 de dezembro de 2009

[ENTREVISTA] Subaudition

UMA LUZ QUE ILUMINA ESTE CAMINHO DE EMOÇÕES

Os Subaudition podem ser uns ilustres desconhecidos, mas depois de ouvirmos o seu mais recente trabalho – “Light On The Path” – ficamos imediatamente convencidos que estamos perante um dos mais promissores colectivos a explorar a veia melancólica da música. Um bom pretexto para apanharmos um simpático Antti Korpinen na longínqua Finlândia e trocarmos umas palavras sobre um dos mais interessantes discos do ano.

O que é esta luz no vosso caminho? O final de um período de escuridão?

Pode-se dizer isso. Durante os quase quatro anos que gastamos para escrever o disco houve alturas em que nos sentimos a nadar em águas bastante escuras e lodosas, por assim dizer. Poder ultrapassar isso e sair como um vencedor – é o sentimento da catarse que faz brilhar a luz no nosso caminho. Esta luz é também de natureza espiritual, uma vez que considero estar a encontrar o meu caminho nesse sentido também. Isto apesar de ter ainda uma longa distância a percorrer.

Acho a vossa música extremamente melancólica – concordam com esse sentimento, ou há outros que acham que a vossa música desperta?

Gosto de pensar que sou uma pessoa que não se preocupa com o seu passado mas que olha em frente para o futuro. Penso que sentimentos como a melancolia ou o saudosismo, todos os sentimentos desse tipo, são sentimentos que ligam uma pessoa ao passado. Mas não consigo deixar de lamentar coisas como oportunidades perdidas ou momentos passados de beleza que sei que não se voltarão a repetir. Talvez o sentimento mais forte na nossa música seja a catarse, no sentido em que para mim os Subaudition são uma espécie de ritual de purificação.

Porque é que criam música, ou mais especificamente, este tipo de música?

Muito boa pergunta. Acho que há muitas razões, sendo a mais importante das quais definitivamente a necessidade de criar algo. Sinto que quase não tenho opção sobre criar ou não música. A necessidade de criar está tão profundamente enraizada em mim que não é uma escolha racional de qualquer forma. A música sempre foi a forma de arte que mais me tocou, e provavelmente a única em que tenho algum talento. E porque sempre me senti mais interessado pela melodia, harmonia e atmosfera do que por ritmo ou riffs, é natural que crie este tipo de música. É aquela que sinto poder expressar todas as minhas emoções.

Necessitas estar num estado mental específico para criar músicas dos Subaudition?

Mais do que qualquer outra coisa, parece que criar uma música dos Subaudition requer tempo. Mas é também verdade que requer um específico estado mental no sentido em que muitas vezes sinto como que as músicas a passarem por mim quando crio para os Subaudition. Aconteceu isso em algumas das faixas de “Light On The Path”; não tive sequer de as trabalhar muito, elas quase que jorraram de mim. Quando consigo alcançar essa espécie de sentimento de condução e euforia, é quando a maioria das músicas dos Subaudition ganham vida. E é também quando os Subaudition se tornam mais satisfatórios do que qualquer outra coisa no mundo. E quero mesmo dizer QUALQUER outra coisa.

Qual foi o peso da experiência prévia que tinham como músicos na criação desta banda?

O Roope e eu tínhamos anteriormente tocado num grupo de rock progressivo / metal chamado Manifold Object, mas a certa altura apercebemo-nos que a componente técnica e exibicionista da música não é aquilo que realmente nos interessa. Por isso, quando começamos os Subaudition, foi de certa forma uma reacção a todo o virtuosismo técnico. Preferimos fazer música que seja tão honesta e emocional quanto possível, e isso é algo que temos tentado vindo a fazer com os Subaudition desde essa altura.

Os Subaudition são relativamente recentes – o que achas que vos pode diferenciar das outras bandas que tocam um estilo de música semelhante?

É uma pergunta extremamente difícil, porque não ouço muita música semelhante à dos Subaudition. Quero dizer, sou grande fã de bandas como Pink Floyd, Tenhi, Sigur Rós e Anathema, por exemplo, mas posso apenas adivinhar que há toneladas de bandas semelhantes por esse mundo fora no panorama alternativo que não conheço. Pode soar arrogante, mas para mim os Subaudition são a melhor banda do mundo. Se não fosse, mais valia concentrar-me em ouvir música de outras bandas. Claro que o que torna os Subaudition diferentes para mim é que são muito mais pessoais do que qualquer outra banda. Mas do ponto de vista do ouvinte, diria que é a nossa subtileza e atenção ao detalhe que nos tornam diferentes de muitas outras bandas, principalmente com “Light On The Path”.

Este novo disco demorou 4 anos a ser feito – porquê um processo tão longo?

Falo por mim quando digo que não sou um músico ou compositor no sentido de poder apenas agarrar na minha guitarra e conscientemente decidir que vou escrever uma música nova. Não funciona assim para mim de forma alguma. Todas as vezes que tentei fazer isso acabei com material demasiado pretensioso e “auto-consciente”, e isso é definitivamente algo que nem sequer consideraria gravar para um disco dos Subaudition. Pelo contrário, quero que os Subaudition sejam tão intuitivos e honestos quanto possível, e para “Light On The Path” demorou cerca de quatro anos para reunir as músicas que eram necessárias para um disco de longa-duração. O sentimento de condução de que falei anteriormente não pode ser apressado, necessita de tempo. Posso apenas calcular que o próximo disco vá demorar tanto tempo como este demorou.

Tiveram alguma dúvida durante este longo processo que o disco alguma vez estivesse completo?

Olhando para trás, de facto parece algo ridículo que apenas tenhamos sido capazes de escrever nove músicas em quatro anos (gravamos duas músicas adicionais mas decidimos não as incluir no álbum). Não soa como uma banda profissional, mas como disse anteriormente, não me considero um músico profissional. Mas durante esses quatro anos estive sempre confiante que, independentemente de quando tivéssemos o disco pronto, seria a melhor coisa que alguma vez tivesse criado. Não sou uma pessoa muito presa ao tempo, nem acho que a música dos Subaudition seja temporal. Quero dizer, estou mais interessado em elevar os Subaudition a um patamar superior ao criar a melhor música possível e não o maior número de músicas possível. A qualidade é sempre preferível à quantidade, e acredito que isto é também algo que nos diferencia de muitas outras bandas similares.

Como é que normalmente compõem? É algo que fazem juntos, ou cada um faz o seu trabalho de forma isolada?

Para o nosso disco de estreia a maioria do material foi feita em conjunto do início ao fim, enquanto que em “Light On The Path” compusemos a estrutura de cada música individualmente antes de nos juntarmos para criar os arranjos. Mas penso que são os arranjos que realmente fazem a diferença numa música, por isso este disco deve ser também considerado um trabalho em conjunto. Além disso, para nós não interessa quem faz o quê na banda, os Subaudition não servem grandes egos. Temos objectivos maiores do que apenas satisfazerem os nossos míseros egos.

Agora que têm o trabalho final nas vossas mãos, quão orgulhosos estão dele? Captura todas as emoções e sentimentos que estavam na vossa mente enquanto o criavam?

Sim, realmente captura. Light On The Path” é o nosso absoluto pico criativo até ao momento. É provavelmente o maior feito da minha vida até agora, por isso estou extremamente orgulhoso do que conseguimos com o disco. Até este momento não consigo encontrar nada que quisesse alterar no álbum, o que é também um muito bom sinal.

Há algum conceito por detrás das letras ou do próprio disco?

Não é um álbum conceptual propriamente dito, mas parece que volto sempre aos mesmos assuntos nas minhas letras, por isso há definitivamente uma ligação aí. Oportunidades perdidas, morte e espiritualidade parecem ser os temas que tendo a usar nas minhas letras. Pessoalmente, acho que o conceito por detrás do álbum é a transcendência, quer a do dia-a-dia quer a um nível mais espiritual.

Quais são as vossas principais inspirações ao criar música?

Sou inspirado por um enorme número de coisas: diferentes tipos de música e desporto (especialmente jogging) por exemplo. No entanto vejo inspiração e influência como duas coisas diferentes. Quero dizer, não sei como uma pessoa pode ser musicalmente influenciada pela natureza, por exemplo. Talvez a natureza cante uma música para alguém, mas para mim a natureza no seu melhor é um lugar de tranquilidade. Musicalmente, a maior inspiração para “Light On The Path” foi o compositor Estónio Arvo Pärt, embora não saiba quanta dessa inspiração possa ser ouvida na música. Para mim a sua música define transcendência e catarse como ninguém (talvez com excepção da nossa própria música). Gostaria no entanto de saber qual é a minha verdadeira fonte de inspiração… aquilo que faz o sangue correr-me pelas veias quando o sentimento de euforia toma posse de mim ao compor para os Subaudition. Sei apenas que é algo maior do que qualquer coisa deste mundo.

O que mais me agrada é a vossa capacidade de criar verdadeira melodia e sentimento na forma de música – como são capazes de o fazer?

Como disse anteriormente, também não sei propriamente como as nossas músicas ganham vida. Para mim, a maioria das coisas com os Subaudition apenas acontecem… Mas acho que realmente se deve ao facto de deixarmos a música fluir de nós naturalmente e tentarmos mantê-la tão honesta e pura quanto possível. De um ponto de vista teórico, a nossa música é provavelmente ou muito estranha ou muito básica, mas não queremos saber de teoria quando escrevemos música. Se soa bem, e se soa correcto, então é perfeito para os Subaudition. Não racionalizamos ou teorizamos a nossa música demasiado. Isso retiraria provavelmente a maior parte da sua honestidade ou emoção.

A tua voz soa-me também como das melhores que jamais ouvi neste género – é algo intencional ou apenas o que sai da tua garganta?

Definitivamente apenas o que sai da minha garganta. [risos] Não tenho qualquer educação em termos vocais. Sinto-me honrado com o teu elogio, embora na minha opinião ainda tenha muito que aprender e melhorar no que diz respeito a cantar. No entanto, sempre quisemos que as vocalizações fossem mais um instrumento como as guitarras, os teclados, e por aí adiante, e isso é algo que faz com que a minha aproximação vocal seja essa.

Algumas partes mais intensas (como no início de “Feathers Fall”) lembram-me o trabalho de Danny Cavanagh – achas que a sua voz é algum tipo de referência para os Subaudition?

Devo dizer que sempre preferi as vocalizações do Vincent [NT: vocalista principal dos Anathema] às do Danny, mas ser comparado a qualquer um deles é uma honra, sem dúvida. O Vincent é um dos meus vocalistas preferidos desde que ouvi pela primeira vez Anathema no disco “Alternative 4”. O que eu procuro nos vocalistas é quão bem eles se enquadram e misturam na música que a sua banda toca. Não estou interessado no lado técnico de cantar, apenas na profundidade e emoção da voz.

Tocam todos os instrumentos presentes no disco, ou têm alguns convidados?

No disco tivemos alguns convidados nas cordas e nas vocalizações de fundo. Tivemos o Ville Rauhala no baixo, o Jussi Suonikko no violino, o Ilari Autio no violoncelo e o Juha Timonen nas vocalizações adicionais. Todos eles são pessoas que conhecemos aqui na cidade onde vivemos, Tampere. Tudo o resto foi tocado por nós. Mas nos Subaudition realmente não interessa quem toca o quê. Nesse sentido somos mais um colectivo do que uma banda porque queremos sempre que sejam as músicas a decidir que tipo de instrumentação é que necessitam. Por vezes apenas piano e voz são suficientes, outras vezes é necessário todo um grupo de músicos convidados.

Vocês citam alguns nomes como influências, desde Anathema até The Gathering, Katatonia ou Tenhi – o que têm em comum com eles?

Especialmente com certos discos mais antigos, como “Alternative 4”, “Mandylion”, “Discouraged Ones” ou “Kauan”, para mim essas bandas sempre foram extremamente sensíveis e sempre tentaram propagar emoção e sentimento antes de tudo o resto na sua música. Infelizmente, algumas dessas bandas, particularmente os Katatonia, tornaram-se mais interessadas em ser progressivas e mais acessíveis em vez de escrever música vinda directamente do coração. Isso é algo que por vezes acontece quando te tornas um músico profissional, e é por causa disso que eu não quero que os Subaudition se tornem um emprego para nós. Para nós Subaudition é apenas destinado a cantar e tocar o que vai na nossa alma.

E o que achas que fazem melhor?

Não sei o que fazemos melhor do que essas bandas, certamente que também não vês música como uma competição, certo? Mas uma coisa que certamente nos diferencia, e na minha opinião para melhor, é a nossa abordagem totalmente intuitiva devido à total falta de conhecimento de qualquer teoria musical.

E como tem sido a reacção ao disco até agora?

Ainda não vimos uma única análise, mas os comentários que tenho recebido de pessoas que ouviram pelo menos algumas músicas são muito positivos. Estamos bastante confiantes que fizemos um grande disco e espero que o feedback que recebamos seja alinhado com isso.

Porque é que tantas bandas Finlandesas exploram esta sonoridade melancólica? O que há na Finlândia que pode explicar isso?

Realmente não sei. [risos] Algumas pessoas dizem que são os longos, escuros e frios Invernos, mas também temos alguns meses no Verão em que o sol só se põe poucas horas à noite. Pelo menos eu também me sinto inspirado pelos Invernos sombrios, isso não é o motivo pelo qual sou melancólico. Acho que existe alguma coisa como um pessimismo ou um sentimento de perca enraizado no nosso sangue. Os Finlandeses sempre estiveram na mó de baixo, seja com o reinado Sueco ou Russo, ou agora sob o domínio da União Europeia. Independentemente do quanto tenhamos combatido, sempre perdemos as guerras em que nos envolvemos. E como recompensa de grandes batalhas contra todas as probabilidades (como na 2ª Guerra Mundial), territórios como a Karalia foram-nos roubados após a guerra. Estou só a teorizar aqui… mas pode ser uma das muitas razões por detrás desse sentimento de perca que está presente na música de muitas bandas Finlandesas. Há também algo na música tradicional Finlandesa que não tem correspondência na sua melancolia com a música tradicional de outros países, e isso pode ser outra razão.

Quais são os vossos planos para levar este disco para o palco?

Infelizmente ainda só temos três concertos na Finlândia marcados. Tínhamos planos para uma tour Europeia no início da Primavera de 2010, mas esses planos não se concretizaram. Neste momento estamos a ensaiar para esses concertos na Finlândia com um alinhamento de quatro músicos no total. Acredito que vão ser bons espectáculos, até porque os Antimatter se vão juntar a nós. De qualquer forma, se alguém nos apresentar planos para uma tour Europeia que se enquadre na nossa agenda, estaremos sem dúvida interessados.

Portanto não há ainda planos para visitarem Portugal no futuro próximo… o que conhecem sobre o nosso país?

Infelizmente não temos planos nem para visitar Portugal nem qualquer outro país num futuro próximo. Não conheço muito do vosso país, apesar de ter passado umas férias no Algarve há uns dez anos atrás. No entanto era um daqueles destinos turísticos, por isso não posso dizer que tenha aprendido muito sobre a cultura Portuguesa. E era também muito novo na altura, tinha cerca de 15 anos. Mas claro que conheço algumas boas bandas de Portugal, com os Moonspell à cabeça, e também acompanho futebol por isso sei bem que há muitos futebolistas excelentes oriundos daí. O que é curioso é que já respondemos a algumas entrevistas sobre “Light On The Path” vindas daí de Portugal, e o vosso país é certamente um daqueles locais na Europa que adorava visitar no futuro – espero que seja com os Subaudition!

A vossa carreira tem sido sempre ascendente desde o início – quais são os próximos passos e até onde acham que podem ir?

Acho que não temos limite até onde podemos ir, porque não nos limitamos de qualquer forma. Espero que muita gente nos descubra com “Light On The Path”, e espero que o próximo passo seja levar o disco numa tour Europeia, vamos sem dúvida empenhar-nos para que isso aconteça. Para além disso honestamente não sei. Eventualmente outro disco, claro, mas não o vejo acontecer nos próximos dois anos, pelo menos.

Lurker

[website: http://www.myspace.com/subauditionfinland]

domingo, 6 de dezembro de 2009

[ENTREVISTA] Neun Welten

DA NATUREZA PARA O MUNDO

Bandas que encontram inspiração na Natureza há muitas, mas não são assim tantas as que conseguem capturar o espírito natural de forma harmoniosa na sua música, recorrendo a uma série de instrumentos acústicos para passar esse sentimento. Por isso falamos com os Neun Welten para perceber como é que o seu novo disco “Destrunken” consegue reunir esse espírito natural em forma de música, e acabamos a descobrir mais do que uma ligação ao nosso país.

Como é que apresentam os Neun Welten a quem não vos conhece?

Combinamos instrumentos clássicos, como o violino, violoncelo ou flauta, com instrumentos modernos, como bateria ou guitarras acústicas. A nossa música é maioritariamente instrumental e cria uma atmosfera influenciada pela natureza. O resultado é uma sonoridade mística, melancólica e por vezes vibrante. Todas as músicas de Neun Welten são compostas por nós, e podemos chamar à nossa sonoridade um Folk místico da natureza.

O que vos inspirou para criar a banda e escolher este nome em particular?

Neun Welten quer dizer Nove Mundos, e refere-se à mitologia Nórdica. Quando a banda foi criada escolhemos esse nome devido ao nosso interesse em mitologia, lendas ou sagas nossas e também da história Nórdica. Dado o nosso desenvolvimento pessoal e novas experiências, hoje temos muitas mais influências que afectam a nossa música do que apenas a mitologia Nórdica. No entanto, a natureza ainda representa um papel principal, e as nossas experiências com a natureza são cruciais para a nossa sonoridade e estão também presentes nas lendas e sagas antigas.

Destrunken” é editado 3 anos depois de “Vergessene Pfade” – quais são as principais diferenças entre os dois lançamentos?

Nas músicas de ambos os discos tentamos expressar as nossas experiência com e na natureza. Com Vergessene Pfade” descrevemos a natureza como a vemos, mais no sentido de imagens ou cenas da natureza. Neste novo disco adoptamos uma perspectiva diferente, tentamos expressar mais as diferenças percepções da natureza que cada um tem, dependendo das suas condições emocionais. Desde o início que “Destrunken” tinha um conceito mais forte por detrás das músicas e por causa disso consegue passar uma atmosfera similar, mais íntima e poderosa.

Como é que normalmente compõem música para os Neun Welten?

A composição é um processo em que estamos todos envolvidos e criamos as músicas juntos. Devido a isso, uma música na sua versão final pode muitas vezes diferir bastante da ideia inicial.

Porquê a escolha de “Destrunken” para o nome do disco?

Antes de mais, Destrunken” não é uma palavra alemã, nem sequer existe em qualquer outra língua. É uma palavra imaginária, por isso não tem nenhum significado especial e pode ser livremente interpretada. Para nós descreve um sentimento muito especial, como alguém a vaguear no nevoeiro, ou de uma forma errática através de conflitos internos.

Há algum conceito por detrás do disco?

Há um conceito que constitui uma história acerca de uma viagem que alguém pode ter, por exemplo através da natureza, em que esse alguém tem que lidar com as suas próprias emoções, provavelmente conflituosas. Claro que essas emoções influenciam a percepção da natureza, do ambiente que nos rodeia, podendo-se sentir assustado ou reconfortado. O nosso conceito do disco é bastante pessoal e íntimo.

E quais são as principais influências nas vossas composições?

As influências podem ser muito diferentes. Maioritariamente recolhemos as nossas emoções, sentimentos e em algumas partes aventuras de viagens que fazemos na natureza de tempos a tempos. E então deixamo-los fluir na nossa composição. Essas experiências são de natureza terrena ou mística, são intensas, belas ou etéreas. Para o novo disco usamos mais experiências pessoais e influências que encontramos nessas viagens. Mas também assimilamos o que nos rodeia no dia-a-dia numa grande cidade onde sentimentos de natureza são mais do que raros.

Um dos principais desafios para uma banda que recorre a tantos instrumentos é o balanço do som final no disco, para que cada qual possa ter o seu espaço sem comprometer os outros. Acham que isso foi conseguido em “Destrunken”?

Para nós não é assim tão importante que se possa seguir cada instrumento que está a tocar, mas antes que o conjunto forme uma paisagem sonora. Passamos muito tempo em estúdio a definir a mistura para cada música. Este foi um desenvolvimento bastante entusiasmante para nós e para as músicas também. Agora, a sonoridade e a mistura estão muito perto da nossa visão. Antes de entrarmos em estúdio para as gravações produzimos nós mesmos algumas das músicas na nossa sala de ensaio. A evolução do som e por conseguinte das músicas é muito interessante, todas têm o seu espírito específico. Por isso se estiverem interessados, irá também haver uma edição especial do disco incluindo estas demos de pré-produção intitulada “Dämmerung - die Destrunken Demos”.

Prestam também atenção especial à componente visual do vosso trabalho, tendo escolhido o trabalho de Fursy Teyssier para o ilustrar. Como é que esta colaboração teve lugar?

Com este disco queríamos percorrer um novo caminho. Não tínhamos uma pré-concepção ou imagens como tinha acontecido com "Vergessene Pfade”. Queríamos que o Fursy ouvisse a música e tirasse as suas próprias impressões. Por isso ele desenhou a capa com base na música para que fosse o perfeito complemento aos vários ambientes do disco em termos visuais. O Fursy fez um trabalho soberbo! Estamos muito satisfeitos e adoramos o trabalho gráfico, ele é um grande artista.

E estão satisfeitos com o resultado final do disco?

Sim, estamos satisfeitos com o resultado final. Queríamos tê-lo lançado mais cedo, mas devido a algumas circunstâncias imprevisíveis e à nossa ambição de conseguir o melhor resultado para cada música individual, demoramos o tempo que foi necessário para o fazer.

E como estão a ser as reacções até agora ao disco? É algo a que prestam atenção?

As críticas nas revistas da especialidade têm sido muito positivas. É importante para nós o que as pessoas têm a dizer sobre o nosso trabalho, porque queremos perceber se as opiniões dos ouvintes são as mesmas que as nossas. Mas é também interessante perceber como é que as pessoas lidam com estas músicas.

Fazer parte da Prophecy quer também dizer que partilham a mesma “casa” com outros projectos de sonoridade semelhante. Isso agrada-vos?

Estamos em muito boas condições na Prophecy. Cada banda tem o seu próprio conceito e sonoridade mas todas partilham a mesma emoção etérea independentemente do estilo que tocam. Com a Prophecy podemos também ter a certeza que teremos sempre música muito bem produzida e com uma forte componente estética.

Há algum projecto com quem sintam alguma afinidade especial?

Gostamos bastante de bandas como os Tenhi, Dornenreich, Empyrium, Alcest ou Klimt1918, entre outras, com quem partilhamos muitas influências e em certa medida lidamos com atmosferas semelhantes que queremos transmitir. Mas seguimos o nosso caminho individual sem grandes afinidades a nível musical com outras bandas.

O que podemos esperar de uma actuação ao vivo dos Neun Welten?

Como aconteceu no passado, uma actuação ao vivo dos Neun Welten vai ser um espectáculo expressivo onde podem fechar os olhos e encontrar-se num sonho. Já tocamos algumas das músicas do novo disco na tour com os Tenhi e os Dornenreich, e nos próximos espectáculos vamos tocar mais algumas músicas do novo disco. Mas vamos ter que fazer arranjos a algumas músicas, por exemplo há partes em que oito violinos e quatro violoncelos tocam ao mesmo tempo. Mas não queremos usar electrónica ou teclados em palco, porque a nossa abordagem aos Neun Welten sempre foi a de manter tão natural quanto possível, e portanto evitamos o recurso a instrumentos electrónicos sempre que possível. Adicionalmente, tentamos criar uma atmosfera intimista com recurso a velas e usamos também por vezes projecções vídeo com imagens da natureza, incluindo-nos também na área de projecção para poder chamar mais a atenção para as atmosferas das músicas e para nós como músicos.

E têm algum plano para actuar em Portugal num futuro próximo?

Teríamos muito gosto de tocar em Portugal no futuro. Alguns de nós passamos alguns dias na bela cidade de Lisboa, e a Anja, que tem a sua própria agência musical, assinou contrato com a banda Dazkarieh de Portugal e tornaram-se bons amigos. Há por isso uma pequena ligação que esperamos que se venha a alargar no futuro.

E quais são os vossos planos para o futuro dos Neun Welten?

Mantermo-nos verdadeiros, naturais e mantendo o mesmo espírito. [risos] No futuro próximo vamos produzir algumas músicas especiais para diferentes compilações. Adicionalmente vamos começar a escrever músicas novas para o próximo disco que poderá ser mais experimental. E durante este tempo iremos, esperamos nós, tocar alguns espectáculos em Portugal!

Lurker

[Website: http://www.myspace.com/neunwelten]

domingo, 29 de novembro de 2009

[ENTREVISTA] Oniric

DOS SONHOS PARA A REALIDADE

O projecto Oniric não será dos mais conhecidos, mas se dissermos que é oriundo de Itália e que pratica uma sonoridade enraizada no Cabaret, se calhar algumas sobrancelhas começam a levantar-se com interesse. Percorremos este mundo de sonhos com a ajuda de Carlo e GianVigo para os podermos conhecer melhor e ficarmos viciados nesta síndroma.

Podem apresentar os Oniric a quem não vos conhece?

Os Oniric são um projecto que começou como um duo e tem evoluído a partir daí com o passar do tempo, formados por Carlo De Filippo e GianVigo (Gianpiero Timbro). O primeiro encontro artístico deu imediatamente origem à composição directa e espontânea inspirada por sonhos etéreos, juntando as cordas tristes e o esbatido som obscuro de Carlo com a melodia e a sonoridade vibrante de GianVigo: rapidamente, uma veia nostálgica e intimista nasceu dos primeiros trabalhos. A colaboração regular com Simona Giusti permitiu que o projecto aumentasse as suas peculiares atmosferas, devido à sua voz angelical.

E porquê este nome para a banda? Têm os sonhos um tão grande impacto na vossa música?

“Oniric” é uma palavra que representa o que pertence ao mundo dos sonhos. Faz alusão a sugestões, visões, experiências vividas em sonhos e na ilusão da mente, dando a possibilidade de se distanciar da realidade para a poder perceber melhor.

Começaram a escrever música em conjunto em 2005, mas só agora lançam a vossa estreia – o que estiveram a fazer no entretanto?

Um ano depois, em 2006, fizemos o nosso primeiro EP intitulado “Suggestioni”, depois um par de singles (“Destroy Paranoia” com Simona Giusti (a primeira vez que trabalhamos com ela) e “Blessing”) e no ano passado outro EP chamado “Boulevard Cinéma”. Além disso, temos tido uma intensa actividade ao vivo durante todo este tempo.

E qual foi a centelha que vos levou a criar esta banda?

Bem, para dizer a verdade, quando começamos a tocar juntos não planeamos criar um projecto específico. Por isso não nos preocupamos com as notas que eram criadas quando estávamos a tocar. Permitimos que a natureza seguisse o seu curso, e aqui estamos.

Agora que “Cabaret Syndrome” foi lançado, estão satisfeitos com o resultado final ou mudariam algo se tivessem essa oportunidade?

Estamos satisfeitos com o resultado final porque o que acabamos por realizar foi a matriz original para cada composição. Não seria positivo ter a possibilidade de mudar alguma coisa num período que não é aquele em que a música foi criada.

E qual foi o processo de composição para este disco?

Não estabelecemos qualquer limite temporal para compor. No nosso contínuo processo de improvisação capturamos instantes que nos parecem mágicos e desenvolvemo-los.

Qual é o principal conceito por detrás de “Cabaret Syndrome”? Há um tema central que exploram com a vossa música e as vossas letras?

Por detrás do título Cabaret Syndrome” há um retrato das várias formas de Cabaret do século vinte (em particular o Cabaret Francês), as mais características e evocativas. O termo “Syndrome” indica uma forma de exasperação, um vício para aqueles espectáculos intelectuais e não conformistas, uma tendência artística desapaixonada em direcção a um estilo de vida fora de moda. As músicas e as letras revolvem em redor de sensações espontâneas e temporárias, como uma criança as viveria.

Quais são as principais fontes de inspiração que vos levaram a criar este trabalho?

Não há uma influência principal que é visível nos nossos trabalhos, muitas vezes tiramos o pó a músicas que nos fazem lembrar a nossa infância ou que nos conseguem dar a oportunidade de viver épocas nunca vistas. Acima de tudo, procuramos por algo que nos possa satisfazer a alma, para além dos nossos ouvidos.

Ao ouvir alguma da vossa música, encontro referências a sonoridades típicas das feiras ambulantes do passado – é algo que decidiram deliberadamente incorporar?

Isso não foi realmente intencional, mas pode ser uma boa ideia para os nossos próximos trabalhos! [risos]

Como tem sido até agora a reacção ao disco? Alinhada com a vossa expectativa?

Para já podemos considerar-nos satisfeitos, mas é demasiado cedo para ter uma visão completa sobre as nossas expectativas.

Há outros projectos em Itália a explorar o conceito de Cabaret – acham que é uma sonoridade de alguma forma associada ao vosso país, ou criariam a mesma música se fossem oriundos de outro local?

Não pensamos numa relação entre o Cabaret e o nosso país, por vezes transportamo-nos para outros locais e a nossa música pode sair afectada devido a isso.

Quais são alguns dos mais recentes projectos que captaram a vossa atenção?

Olhamos com admiração para projectos como Ashram, Spiritual Front, Corde Oblique, Argine (nossos vizinhos), Cinema Strange, Ordo Rosarius Equilibrio e, para além deste estilo musical, bandas como Get Well Soon, Beirut ou Devotchka.

Já tiveram oportunidade de levar o “Cabaret Syndrome” para o palco?

Nas próximas semanas devemos começar a apresentar o nosso trabalho em sessões ao vivo, e esperamos obter uma boa atenção por parte do público.

Alguns planos para virem a Portugal num futuro próximo?

Há uma oportunidade de irmos a Portugal, embora não saibamos exactamente quando. Não conhecemos muito sobre o vosso país, seria uma boa oportunidade de o conhecer de mais perto!

E quais são os planos para o futuro com os Oniric?

Neste momento estamos a preparar as próximas actuações ao vivo onde vamos apresentar o novo disco. De seguida vamos começar a recolher material para trabalhar num novo trabalho!

Lurker

[Websites: http://www.myspace.com/oniricband]

domingo, 8 de novembro de 2009

[ENTREVISTA] The Joy Of Nature

UM CÍRCULO DE INSPIRAÇÃO SEM FIM

Os Joy Of Nature são um dos melhores representantes nacionais de uma sonoridade que podemos traçar algures entre o Folk e o Psicadélico. Em 2008 deu-se início a uma trilogia, que este ano vê o segundo capítulo sair para os escaparates. Mais do que bons motivos para falarmos com Luís Couto, mentor do projecto e um músico com inspiração aparentemente sem limites.

Antes de mais, uma pergunta obrigatória: qual é a sensação depois de teres finalmente o novo disco cá fora?

Este foi o disco que, até agora, mais tempo me tomou. Além disso, foi de concepção muito difícil e uma série de problemas, a vários níveis, marcaram o processo. A sensação é apenas de finalmente tê-lo concretizado.

Agora que vês o trabalho final editado, corresponde às tuas expectativas?

É muito difícil, senão mesmo impossível, que o trabalho concluído corresponda ao que foi idealizado. Mas não está assim tão longe do que foi primeiramente pensado, apesar de ter tomado direcções inicialmente não previstas.

Regressando um pouco atrás, porquê o conceito desta trilogia? O que pretendes transmitir com os 3 discos de “The Empty Circle”?

O que está no centro desta trilogia é o círculo vazio, símbolo e imagem muito poderosa. A concepção de ilusão que surge em diversos textos hindus e que foi perpetuada com o budismo sempre foi a que desde criança tive, antes sequer de saber que religiões existiriam no extremo-oriente. O círculo vazio é símbolo do incondicionado, que é também o estado de iluminação, atingido por muito poucos.

No entanto, esta trilogia é como uma observação das ilusões a partir da própria ilusão. A primeira parte é um olhar sobre os acontecimentos que constituem uma vida, comparando-os a um guião de uma peça de teatro. A segunda é sobre a herança dos nossos ancestrais e da necessidade de não se perder a tradição, de mantê-la viva. A terceira é sobre a impermanência de tudo na vida.

A forma como tudo isto se encaixa e conjuga é algo que a música, mais do que palavras, saberá transmitir.

Este disco marca também uma inflexão na corrente anglo-saxónica que tens vindo a seguir, apresentando um subtítulo em Português, assim como o nome das faixas. Porque achaste que nesta altura tinhas que seguir um caminho escrito na nossa língua?

Acima de tudo, o conceito do disco assim o exigia. Sendo um disco com um tema relacionado com a herança dos nossos ancestrais, não fazia sentido fazê-lo noutra língua, apesar de assim se tornar menos compreensível para uma boa parte do seu público. Em The Joy of Nature, no entanto, vários línguas têm aparecido além do inglês e português: sânscrito, alemão, latim. E isto acontece porque determinadas línguas expressam melhor determinadas coisas.

Existe um conceito inerente a este trabalho, a nível sonoro ou lírico? Podes explicar-nos um pouco mais sobre esse conceito?

Há mais a sentir do que a explicar. Quem ouvir as músicas e percorrer o booklet do CD terá a sua percepção do trabalho.

Fala-nos um pouco sobre as músicas que fazem parte deste trabalho – como foi o processo de composição? Já tinhas as ideias alinhadas desde o disco anterior, ou foi um disco que se foi escrevendo a si próprio?

Os temas para os 3 discos da trilogia começaram a ser compostos e gravados na mesma altura e foram sendo divididos pelos diferentes discos à medida que iam ganhando forma e que o conceito de cada parte da trilogia se ia tornando mais claro. Houve alturas em que houve uma concentração numa parte específica da trilogia. Com o tempo, o alinhamento dos discos foi mudando. Este disco foi inicialmente pensado como a primeira parte da trilogia, mas os trabalhos vão enriquecendo e, por vezes, alteram-se as suas formas.

Escolheste também 3 faixas tradicionais para versões neste disco. Porquê a escolha destas 3 faixas em particular?

"Tanchão" é um tradicional açoriano cuja letra (desta versão, porque há imensas variantes do tema) sempre me causou uma forte impressão. "Ó Menino Ó" foi uma canção que me mostraram em 2006 e que imediatamente me atraiu; algumas canções de adormecer, como esta, têm letras com enigmas simples e extremamente interessantes. A "Senhora do Almortão" surgiu por causa da letra, mas também pelas impressões recolhidas in loco em aldeias pouco conhecidas da Beira Baixa. As três contêm elementos tradicionais muito importantes e essa é a principal razão para a sua inclusão.

A nossa tradição e folclore ancestrais são uma grande fonte de inspiração para ti?

SIm, mas considerando o folclore como fonte de elementos tradicionais.

A tradição é uma só, apesar de se revestir de formas diferentes para cada povo. A tradição de um povo adequa-se às suas condições próprias de existência e permite uma compreensão da sua própria condição, por menos visível que se tenha tornado.

Podemos dizer que são uma das inspirações por detrás deste trabalho? Quais são as outras?

Sim, sem dúvida que foram e, durante o tempo da sua realização, foram feitas várias recolhas etnográficas, sonoras e visuais. Algumas foram usadas no trabalho final. Fora isso, tudo aquilo que vai acontecendo na vida de um indivíduo, tudo aquilo que ele vai absorvendo – filmes, livros, discos – podem inspirar, mesmo que de forma indirecta.

Lembras-te ainda das razões que te levaram a criar música? Qual foi a faísca que acendeu essa chama que arde vigorosamente até hoje?

Com 11 ou 12 anos de idade, pouco depois de ter começado a tocar orgão, comecei a compôr os primeiros rascunhos: muito rapidamente me fartei de de tocar músicas de outros. Daí até compôr e gravar temas com princípio, meio e fim foi um processo longo.

Há vezes em que me interrogo sobre o que terá acendido essa faísca. A música, desde muito cedo, tem sido algo muito importante na minha vida, seja como ouvinte ou como criador.

O facto de seres Açoriano tem alguma relevância na música que crias? Usas a beleza natural do que te rodeia como fonte de inspiração, ou criarias a mesma música em qualquer outro local?

A paisagem das ilhas açorianas é recente e fruto de cataclismos naturais, o que sublinha o carácter transitório, não só da beleza, como de todas as coisas. É difícil disassociar a beleza natural das ilhas das destruições a que ela deram lugar. A beleza tem a sua origem no desequilíbrio.

A ilha acaba por ser uma parte de mim que levo para qualquer lado. Os três discos desta trilogia foram compostos e gravados tanto na ilha de São Miguel como em Leiria.

Regressando novamente a este novo disco, recorreste a algumas colaborações de artistas convidados. Foi uma questão de necessidade ou de vontade? E porquê estas pessoas em particular?

Foi uma questão de vontade e de se proporcionar. Foram convidadas pessoas que eu sabia que iriam adicionar algo ao disco. Só faz sentido ter convidados que acrescentem algo ao trabalho.

Uma das participações que despertou a minha atenção foi a de membros de Sangre Cavallum. Reconheces alguma afinidade entre ambos os projectos?

Existem algumas afinidades entre ambos os projectos. De contrário, não teria sido possível esta colaboração. Mas apesar das afinidades, são projectos conceptualmente bastante diferentes.

Que outros projectos a nível nacional te despertam interesse? Podemos falar de um movimento Folk nacional em ascensão?

Oiço mais recolhas etnográficas do que propriamente projectos Folk nacionais. Gosto bastante do que os Gaiteiros de Lisboa têm feito, mas já é um projecto com algum tempo.

Não faço mesmo ideia se haverá sequer um movimento Folk nacional.

Reparei também que fazes questão em não limitar Joy Of Nature ao mundo Folk, o que é também notório na tua música. Achas que essa etiqueta seria limitativa em relação à música que fazes?

Sim, seria limitativa, porque apesar de a Folk marcar frequentemente a sua presença, há uma estrutura e uma forma de compor mais próxima do psicadélico; várias vezes também aparece o interesse por música medieval e clássica; e não é também de menosprezar a influência que o que ouvímos na adolescência ainda exerce sobre nós, mesmo que de forma inadvertida.

Com o primeiro volume desta série iniciaste uma colaboração com a Ahnstern, uma das principais editoras deste estilo – estás satisfeito com o trabalho deles até ao momento?

A relação com as editoras é algo de que não falo publicamente. É algo do âmbito privado.

Até onde queres chegar com este disco? Algum objectivo particular que queiras concretizar?

O objectivo é sempre despertar qualquer coisa nas outras pessoas, mesmo sabendo que diferentes pessoas o sentirão à sua maneira. Este disco não é excepção.

Fazes música para ti ou para ser ouvida por outros?

Se fizesse música apenas para mim, não me daria ao trabalho de passar várias horas a misturar os temas ou a masterizá-los. Nem sequer faria sentido editar discos...

És também um compositor extremamente profícuo, para além de Joy Of Nature – Teatro Grotesco, Aquarelle, Moving Coil, Post Crash High são alguns dos teus projectos paralelos. Podes falar-nos um pouco sobre eles?

aquarelle é uma evolução de Moving Coil. Foram dois projectos que existiram principalmente entre 1999 e 2004, muito mais direccionados para sons "independentes", sendo também mais introspectivos e intimistas. Fez sentido fazer uma compilação destes dois projectos este ano porque muitos temas tiveram os arranjos alterados; foi possível este ano aproximar-me mais do que queria fazer na altura e sempre ficou a sensação de que tinha ficado algo por fazer.

Post Crash High surgiu em 2005 e continua como Teatro Grotesco. Em termos sonoros são principalmente usados instrumentos eléctricos e electrónicos, o que faz todo o sentido porque são um olhar para fora, para uma civilização que agoniza.

Porquê a necessidade de tantos projectos paralelos? Há assim tanta música a fluir na tua cabeça ao mesmo tempo, ou são reflexo de um determinado contexto / período temporal?

Cada projecto tem a sua própria identidade, o seu próprio conceito. Com o tempo, alguns deixam de fazer sentido. Outros simplesmente mudam, nem que seja de nome. Agora é tempo de não utilizar tantas máscaras.

Só este ano tiveste um volume de lançamentos notável – como consegues ter uma proficuidade de trabalho tão alta?

Sacrificando outras vertentes da vida. Também é preciso notar que há anos em que se compõe e grava muito, mas não se chega a terminar nenhum trabalho (caso de 2007) ou se termina pouca coisa (como foi em 2006). E há depois anos em que nos vemos com uma série de discos prontos, como foi este.

Uma pergunta provocatória: se só pudesses salvar um título de todos os que lançaste até ao momento, qual seria?

É uma daquelas questões que não tem resposta, porque a cada disco estão associadas memórias pessoais. Mas a escolha recaíria sobre um dos trabalhos mais recentes.

Continuam todos estes projectos activos, ou alguns são já capítulos encerrados?

Post Crash High e Moving Coil são projectos encerrados. aquarelle, em princípio, é também um projecto encerrado. Há coisas que, eventualmente, poderia voltar a assinar como aquarelle, mas a dispersão por muitos projectos diferentes traz uma série de inconvenientes. Parece-me preferível concentrar o trabalho a solo apenas em dois projectos: The Joy of Nature e Teatro Grotesco, mesmo arriscando algum ecletismo.

Que outros lançamentos estás já a preparar, dos quais nos possas adiantar algo?

A terceira parte da trilogia "The Empty Circle" está praticamente pronta: faltam as misturas finais e a masterização, mas como o disco só deverá ser lançado daqui a um ano, é muito possível que venham a ocorrer outras modificações. É novamente um disco com alguns convidados, desta vez estrangeiros, que muito contribuíram para o disco.

Há também outros dois discos de The Joy of Nature a serem preparados, mas não muito adiantados. Num deles estão a ser concretizadas algumas ideias antigas, como misturar música e declamação de poesia.

Também há vários temas inéditos de Teatro Grotesco prontos.

Tudo isto terá o seu tempo de sair, seja daqui a um, dois ou três anos.

Claro que um dos mais aguardados será a conclusão da trilogia “The Empty Circle” – já tem data de lançamento marcada? E quanto ao conceito, podes adiantar-nos algo?

Ainda não há data de lançamento marcada para a última parte da trilogia, mas o seu lançamento só deverá ocorrer a partir do segundo semestre do próximo ano. É um disco sobre a impermanência, mais oriental que os dois anteriores.

Pesem todos os lançamentos, actuações ao vivo é algo de que nunca ouvi falar – faz parte do teu plano levar este novo disco para o palco?

Não me vejo tanto como intérprete, mas mais como compositor, daí que as actuações ao vivo não tenham sido até agora uma prioridade. Também há dificuldades de várias ordens para levar The Joy of Nature ao vivo com a qualidade desejada. Ainda assim, é bastante possível que The Joy of Nature venha a actuar ao vivo no próximo ano.

Quais seriam para ti os parceiros perfeitos para um concerto de Joy Of Nature? Com quem gostarias de partilhar um palco?

Há uma série de artistas com quem gostaria de partilhar um palco e destacar uns poucos seria injusto para os outros.

Mudaste recentemente o logótipo de Joy Of Nature, para o símbolo hermético do sol – porquê esta mudança? Achas que este novo símbolo representa melhor o que é o projecto actualmente?

Havia um certo mal-estar com o logótipo anterior, devido aos símbolos utilizados. Os símbolos podem operar sobre nós a um nível subtil, mas raramente disso nos apercebemos. E o mesmo símbolo tem vários significados, alguns dos quais não são encontrados em livros. Ao conjugar dois símbolos diferentes há que ter em conta que as relações estabelecidas entre ambos podem revelar-se imprevistas.

A alteração para o símbolo hermético do sol foi quase intuitiva. Era simplesmente o símbolo que fazia sentido, um símbolo de estabilidade.

Qual é para ti o grande objectivo no futuro? Como vês a tua carreira e a tua música daqui a alguns anos?

Não há um grande objectivo para o futuro, nem faz sentido falar da música como uma carreira. A música irá seguir o caminho que fizer sentido.

Lurker

[Websites: http://joyofnature.221design.com/ | http://www.myspace.com/thejoyofnature ]

domingo, 8 de abril de 2007

[ENTREVISTA] Sangre Cavallum

EM DEFESA DA NOSSA PÁTRIA ANCESTRAL

Herança. Cultura. Tradição. Todas palavras com um significado muito particular para os Sangre Cavallum. Para perceber melhor o que significam e para discutir os seus dois mais recentes trabalhos, falamos com B. Ardo, o motor criativo de uma das melhores bandas folk nacionais.


Quando se deu a génese de Sangre Cavallum?
Foi num Inverno há dez anos atrás. O interesse pela música como elemento mágico e criador vinha dos anos 80 onde todos tivemos experiências diversas. O passo para Sangre Cavallum deu-se pela necessidade de cantar a Callaecia, cantar a nossa terra e as suas tradições. Para o efeito começamos a usar instrumentos tradicionais em bárbaro convívio com os modernos equipamentos de hoje. Juntámo-nos pela luta espiritual que nos une e pela vontade de percorrer o nosso próprio caminho. Assim quisemos criar a nossa música sem vassalagem às imposições culturais, leia-se genocídio cultural, das sociedades modernas.

A nível musical, os membros da banda têm formação académica na área ou aprenderam sempre com base na prática?
Apenas um elemento, a Corinna Ardo, tem formação clássica de piano, instrumento que por ora raramente usámos. Tal como eu, os restantes elementos (Jorge Ricardo, R. Coutinho, A. Rangel e Emanuel Melo da Cunha) são autodidactas ou com alguma formação tradicional. Somos oriundos de áreas como o rock alternativo de 80, o punk, a música experimental ou o folclore minhoto.

Quais são as principais referências e influências na sonoridade de Sangre Cavallum?
Concerteza que fomos influenciados por bandas como Death in June, Sol Invictus ou Joy of Life, ou ainda Joy Division, And Also the Trees, Test Department ou Bauhaus. Do lado do folk os eternos Malicorne, Banda do Casaco, Milladoiro, Steeleye Span ou Alan Stivel. Contudo, parece-nos que a maior influência, aquando na formação da banda, veio dos grupos de gaiteiros mirandeses, dos pastores, dos cantares de trabalho e dos arrepiantes grupos de Zé-pereiras que muito estimámos desde do Vale do Sousa ao Alto-Minho.

E qual o papel do folclore tradicional nos vosso trabalhos?
Há elementos tradicionais do Norte de Portugal e da Galiza que se podem detectar na nossa música. Outros são mais sublimes ou até se encontram ocultos no interior dos temas. Não há uma preocupação excessiva quanto à autenticidade. A tradição é uma sementeira viva e criadora, cada intérprete vai acrescentando a sua marca e os elementos da sua realidade e da sua memória. Não fazemos música de época, podemos perfeitamente combinar um instrumento com 150 anos e um qualquer software e daí resultar uma canção. A tradição não é uma relíquia dentro de um armário, é antes um fogo vivo.

É notável a quantidade de instrumentos utilizados na criação da vossa música. Quão importante é o seu papel no contexto de Sangre Cavallum, musicalmente e socialmente?
Cada instrumento conta uma história. De cada um brota uma musicalidade, uma linha melódica que muitas vezes não se inventa noutro instrumento. Há uma riqueza tímbrica que não se repete e que advém das madeiras, do construtor e da vida a que o instrumento esteve sujeito. Normalmente preferimos os instrumentos em segunda-mão ou então feitos à nossa medida nos nossos amigos construtores – que nas mãos gretadas guardam magias antigas, música e tradição.

Desde a edição da vossa primeira gravação até ao primeiro álbum decorreram cerca de 6 anos, tendo “Pátria Granítica” e “Barco do Vinho” saído 2 anos depois. Foram-se tornando mais produtivos ao longo dos anos?
Os lançamentos não são prioritários, temos outros interesses ligados à música que não passam pelo registo sonoro e pela sua divulgação. Sempre houve um bom ritmo de trabalho e o nosso arquivo é hoje muito extenso, é o nosso maior património. Nessa altura gravámos mais dois álbuns não editados e outros temas para lançamentos futuros. A explicação é simples, não trabalhámos sob qualquer pressão editorial. Há apenas a vontade autónoma de editar, ou não, em determinadas datas e circunstâncias.

Com dois trabalhos lançados no mesmo ano, quais são as principais diferenças entre eles?
A maior diferença reside na temática. As diferenças musicais em nada nos inquietam, fazemos sempre o que gostámos. O facto de haver um cruzamento entre os dois projectos não altera o processo criativo. Conhecemo-nos bem e sabemos como cada projecto trabalha. Em termos de gravação há algumas diferenças. Houve partes que foram gravadas presencialmente enquanto outras se dependeram da troca postal.

Todo o conceito lírico de “Pátria Granítica” gira em redor do legado histórico dos nossos antepassados. Quais serão as características principais desses tempos que não consideram existir actualmente?
Honra, fidelidade, intolerância e protecção familiar são elementos de uma visão que gira em redor do combate perpétuo, ao serviço da raça e da terra, e nunca em redor da paz podre e artificial do materialismo cristão. Estes e outros elementos elevam o sentir comunitário. Outra das verdades esquecidas é o encarar a morte com a dignidade de um triunfo, de uma vitória. Todos estes valores devem ser transmitidos aos nossos filhos em forma de glosa heróica ou canções evocativas, assim se faz da música e do lirismo, verdadeiros fachos do espírito. O actual e fastidioso chorrilho humanista é apenas ruído para os nossos ouvidos.

E porquê a temática do Vinho como catalisador da inspiração do split com Allerseelen? Era uma ideia já a pairar há muito tempo?
Sim, a ideia foi fermentando durante algum tempo e na altura certa começamos a trabalhar. O vinho encerra muito de mágico e de comunitário. Fazer o vinho é um trabalho que une a fertilidade da terra e a arte e força dos homens.

Qual foi a principal motivação para a publicação deste split?
A vontade de trabalhar em conjunto e a admiração pelo vinho levou-nos a pensar neste trabalho. Há muitos gostos e aspirações comuns daí que seja sempre provável que nasçam ideias conjuntas. A colaboração entre projectos não é prova de qualquer aliança ou pacto, é a prova de que ombro a ombro se caminha firmemente.

Sendo os Allerseelen uma banda Austríaca, foi difícil para eles enquadrarem-se numa temática tão nossa como a cultura vinhateira do Norte de Portugal, especificamente a relacionada ao Rio Douro?
A cultura do vinho é algo transversal aos Europeus, sobretudo aos que cultivam o gosto pela terra. O Douro, pela sua sedução natural, facilmente se enquadrou nas buscas de Allerseelen. O próprio Gerhard teve oportunidade de visitar e de se deixar encantar pelo Douro e os seus vinhos.

“Barbara Carmina” foi lançado pela Storm/Tesco mas “Pátria Granítica” e “Barco do Vinho” pela Ahnstern/Steinklang Industries. Houve alguma razão especial para a mudança?
Não houve qualquer problema com a Storm e continuámos a ter projectos comuns para edições futuras. No entanto, para o volume de trabalho que se avizinha é mais adequado trabalhar com a Ahnstern. Trata-se apenas de gostarmos de trabalhar com amigos, o que acontece em ambas as editoras.

Estão satisfeitos com o trabalho de promoção feito até agora pela Ahnstern?
O trabalho com eles agrada-nos em todos os sentidos. A promoção é suficiente, a distribuição funciona bem e não há qualquer pressão ou solicitações indesejáveis. O que importa é estar longe das demandas dos mercados, das estéticas da artificialidade e, sobretudo, não engraxar botas que não as nossas.

Acaba por ser curiosa a vossa relação próxima com projectos referência neste espectro sonoro, como Blood Axis e Allerseen. Depois de terem editado pela Storm e actuarem em Portugal com a banda de Michael Moynihan, agora que editaram pela Ahnstern e lançaram um split com Allerseen, podemos aspirar a ver-vos tocar com a banda de Gerhard Hallstatt nos próximos tempos?
É natural que isso venha a acontecer. Existem os convites e serão ponderados.

Tocar ao vivo é uma coisa que os Sangre Cavallum têm feito raramente ao longo dos anos. É uma opção própria?
Por nossa vontade e natureza os concertos não são prioritários. Preferimos o silêncio do lar e o ar dos montes aos ambientes dos concertos.

Mas qual foi o vosso concerto mais especial?
Foi no teatro romano das ruínas de Segobriga, perto Cuenca (Espanha) no festival Arcana Europa. Tocámos sob um Sol abrasador e foi um concerto muito dedicado à nossa terra e à nossa música de raiz. Outro aspecto que muito nos agradou foi o facto de em frente ao palco existir uma grande e bela estátua sem cabeça, a lembrar Portugal sem a Galiza. Por tudo isso, foi especialmente iluminado. Contudo, os poucos concertos que tocámos foram sempre especiais.

Há alguma banda com a qual gostariam particularmente de actuar?
Agrada-nos muito a ideia de tocar com um vasto grupo de Zés-pereiras a assegurar a percussão. De resto, quaisquer dos grupos nossos amigos poderão integrar apresentações ao vivo.

É notória a vossa aversão ao Cristianismo e orientação Pagã. Consideram-se representantes/praticantes do Paganismo tradicional, ou preferem manter-se alheios a questões religiosas ou filosóficas?
Não há enquadramento possível, o melhor é mesmo não fazer parte do que quer que seja. Por certo que somos alheios a todo este enredo social, a todas psicoses que largamente afectam a sociedade actual. Por outro lado, não representámos qualquer sistema ligado ao neo-paganismo ou qualquer prática organizada. A nossa religiosidade, de culto pagão, a nós pertence. Naturalmente que crescemos lado a lado com a Cristandade mas cedo se substituiu a cruz ensanguentada por muitos símbolos solares, esses que por todo o Norte encontrámos gravados nas pedras e na nossa memória. Venha a nós o nosso reino…

Os Sangre Cavallum têm algum papel político ou social?
Não nos interessa a política, a economia e a grande conspiração que mantém apertados estes grilhões das modernas sociedades.

Mas a passagem da mensagem de união e preservação da Callaecia é compatível com eventuais aspirações políticas de fusão do Norte de Portugal e Galiza num estado independente?
Não temos qualquer interesse em novas fronteiras administrativas para a Callaecia, novos paus-mandados no poder com a inata falta de acutilância dos que hoje içam bandeiras. Não queremos mais do mesmo, ou seja, mais republicanos aldrabões, vendidos aos poderes do comércio e do Santo Lucro. Interessa-nos a unidade espiritual galaico-duriense, o Pangaleguismo, a religiosidade arcaica, o etnocentrismo e a reposição histórica, que Portugal não esqueça o seu Norte consanguíneo, a Galiza! De resto, as inconsequências políticas ficam para os abutres do costume.

Quais são os planos de Sangre Cavallum para o futuro?
Para além do muito trabalho interno, serão produzidos novos álbuns e eventualmente algumas aparições ao vivo. A tendência será o aprofundar deste cruzamento entre música de inspiração tradicional e as músicas mais underground como o Industrial, o rock psicadélico ou a música experimental. Serão efectuados alguns trabalhos com imagem vídeo entre os muitos tributos à Callaecia, às suas fontes etnográficas e aos tesouros da espiritualidade d’aquém e d’além Minho, a nossa terra transduriana.

Se vos fosse dada a possibilidade de concretizar um objectivo ou desejo específico, qualquer coisa, o que seria?
Desenterrar muitas coisas e enterrar muitas mais!

Lurker.

[ Websites: http://www.sangrecavallum.com/ | http://www.myspace.com/sangrecavallum ]