sábado, 9 de fevereiro de 2008

[ANÁLISE] Teatro Satanico - "Pan Ist Tod" [10'' - 2007]

TEATRO SATANICO
Pan Ist Tod [10'']
Old Europa Cafe
Web: http://www.teatrosatanico.it
Email: info@teatrosatanico.it

Refrescante ver como ainda conseguimos ser surpreendidos por um projecto depois de tantos anos de carreira e a ouvi-los. Este deve ser um sentimento comum a quem se acostumou a ouvir a devastação sónica a que Devis G. nos habituou com os seus Teatro Satanico e que ouve pela primeira vez "Pan Ist Tod".

Porquê? À cabeça, a maior parte da música aqui contida é acústica. Sim, leram bem, acústica. Sim, bem sei que estamos a falar de Teatro Satanico, reconhecidos pela sua experimentação electrónica, mas é inegável que uma maioria dos instrumentos tocados nestas 4 faixas que compõem o trabalho não estão ligados à electricidade. Depois, o imaginário Satânico parece ter-se eclipsado da sua mente neste lançamento, substituído pela figura central de Peter Pan - não o "menino que não queria envelhecer", mas já lá vamos. Finalmente, o que aqui temos é perfeitamente enquadrável no espectro NeoFolk Marcial, por difícil de entender que isso seja na restante discografia do projecto.

Aparentemente, a descoberta de um túmulo (latente na capa deste trabalho) na montanha de Veneto (a região Italiana onde os Teatro Satanico residem) com a inscrição Peter Pan foi a faísca que despoletou esta imensa fogueira de criatividade e diferença. Afinal, Peter Pan era um soldado real, morto e enterrado - e nada mais propício portanto a um disco conceptual, em que metade das músicas (as que compõem o lado A deste 10'') são uma ode à memória dessa morte - que, a julgar pelas letras, não terá sido a mais pacífica.

Bem vistas as coisas, qualquer desculpa é boa para se editar um bom disco. E se a diferença face ao restante catálogo dos Teatro Satanico pode levantar algumas suspeitas, já a qualidade das composições aqui presentes é insuspeita. São as cordas que lideram, criando uma base rítmica repetida incessantemente onde as vocalizações lúgubres criam o seu espaço e onde novos ritmos e ambiências são introduzidas para enriquecer esta malha sonora. A técnica de composição não andará muito longe de outros trabalhos dos Teatro Satanico, com a ressalva da diferença instrumental e do conceito inerente ao disco, e portanto será algo que poderá agradar a quem gostou dos seus trabalhos anteriores - talvez mais do que aqueles que estão mais familiarizados com o espectro NeoFolk tradicional.

E como tradicional não é uma palavra que faça parte do vocabulário dos Teatro Satanico, o lado B é o menos convencional, iniciando com a morte como tema base de uma música com traços de folclore e acabando com a composição mais experimental do disco, onde os instrumentos de sopro ganham relevo na faixa que provavelmente mais agradará aos amantes dos ritmos Marciais.

Apesar de não ser o melhor trabalho dos Italianos, vale pela sua diferença e pela qualidade intrínseca que mesmo assim possui. É uma experiência sonora agradável, que se repete com agrado - ao contrário do que aconteceu ao Peter Pan.

Lurker.

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