UMA LUZ QUE ILUMINA ESTE CAMINHO DE EMOÇÕES
Os Subaudition podem ser uns ilustres desconhecidos, mas depois de ouvirmos o seu mais recente trabalho – “Light On The Path” – ficamos imediatamente convencidos que estamos perante um dos mais promissores colectivos a explorar a veia melancólica da música. Um bom pretexto para apanharmos um simpático Antti Korpinen na longínqua Finlândia e trocarmos umas palavras sobre um dos mais interessantes discos do ano.
O que é esta luz no vosso caminho? O final de um período de escuridão?
Pode-se dizer isso. Durante os quase quatro anos que gastamos para escrever o disco houve alturas em que nos sentimos a nadar em águas bastante escuras e lodosas, por assim dizer. Poder ultrapassar isso e sair como um vencedor – é o sentimento da catarse que faz brilhar a luz no nosso caminho. Esta luz é também de natureza espiritual, uma vez que considero estar a encontrar o meu caminho nesse sentido também. Isto apesar de ter ainda uma longa distância a percorrer.
Acho a vossa música extremamente melancólica – concordam com esse sentimento, ou há outros que acham que a vossa música desperta?
Gosto de pensar que sou uma pessoa que não se preocupa com o seu passado mas que olha em frente para o futuro. Penso que sentimentos como a melancolia ou o saudosismo, todos os sentimentos desse tipo, são sentimentos que ligam uma pessoa ao passado. Mas não consigo deixar de lamentar coisas como oportunidades perdidas ou momentos passados de beleza que sei que não se voltarão a repetir. Talvez o sentimento mais forte na nossa música seja a catarse, no sentido em que para mim os Subaudition são uma espécie de ritual de purificação.
Porque é que criam música, ou mais especificamente, este tipo de música?
Muito boa pergunta. Acho que há muitas razões, sendo a mais importante das quais definitivamente a necessidade de criar algo. Sinto que quase não tenho opção sobre criar ou não música. A necessidade de criar está tão profundamente enraizada em mim que não é uma escolha racional de qualquer forma. A música sempre foi a forma de arte que mais me tocou, e provavelmente a única em que tenho algum talento. E porque sempre me senti mais interessado pela melodia, harmonia e atmosfera do que por ritmo ou riffs, é natural que crie este tipo de música. É aquela que sinto poder expressar todas as minhas emoções.
Necessitas estar num estado mental específico para criar músicas dos Subaudition?
Mais do que qualquer outra coisa, parece que criar uma música dos Subaudition requer tempo. Mas é também verdade que requer um específico estado mental no sentido em que muitas vezes sinto como que as músicas a passarem por mim quando crio para os Subaudition. Aconteceu isso em algumas das faixas de “Light On The Path”; não tive sequer de as trabalhar muito, elas quase que jorraram de mim. Quando consigo alcançar essa espécie de sentimento de condução e euforia, é quando a maioria das músicas dos Subaudition ganham vida. E é também quando os Subaudition se tornam mais satisfatórios do que qualquer outra coisa no mundo. E quero mesmo dizer QUALQUER outra coisa.
Qual foi o peso da experiência prévia que tinham como músicos na criação desta banda?
O Roope e eu tínhamos anteriormente tocado num grupo de rock progressivo / metal chamado Manifold Object, mas a certa altura apercebemo-nos que a componente técnica e exibicionista da música não é aquilo que realmente nos interessa. Por isso, quando começamos os Subaudition, foi de certa forma uma reacção a todo o virtuosismo técnico. Preferimos fazer música que seja tão honesta e emocional quanto possível, e isso é algo que temos tentado vindo a fazer com os Subaudition desde essa altura.
Os Subaudition são relativamente recentes – o que achas que vos pode diferenciar das outras bandas que tocam um estilo de música semelhante?
É uma pergunta extremamente difícil, porque não ouço muita música semelhante à dos Subaudition. Quero dizer, sou grande fã de bandas como Pink Floyd, Tenhi, Sigur Rós e Anathema, por exemplo, mas posso apenas adivinhar que há toneladas de bandas semelhantes por esse mundo fora no panorama alternativo que não conheço. Pode soar arrogante, mas para mim os Subaudition são a melhor banda do mundo. Se não fosse, mais valia concentrar-me em ouvir música de outras bandas. Claro que o que torna os Subaudition diferentes para mim é que são muito mais pessoais do que qualquer outra banda. Mas do ponto de vista do ouvinte, diria que é a nossa subtileza e atenção ao detalhe que nos tornam diferentes de muitas outras bandas, principalmente com “Light On The Path”.
Este novo disco demorou 4 anos a ser feito – porquê um processo tão longo?
Falo por mim quando digo que não sou um músico ou compositor no sentido de poder apenas agarrar na minha guitarra e conscientemente decidir que vou escrever uma música nova. Não funciona assim para mim de forma alguma. Todas as vezes que tentei fazer isso acabei com material demasiado pretensioso e “auto-consciente”, e isso é definitivamente algo que nem sequer consideraria gravar para um disco dos Subaudition. Pelo contrário, quero que os Subaudition sejam tão intuitivos e honestos quanto possível, e para “Light On The Path” demorou cerca de quatro anos para reunir as músicas que eram necessárias para um disco de longa-duração. O sentimento de condução de que falei anteriormente não pode ser apressado, necessita de tempo. Posso apenas calcular que o próximo disco vá demorar tanto tempo como este demorou.
Tiveram alguma dúvida durante este longo processo que o disco alguma vez estivesse completo?
Olhando para trás, de facto parece algo ridículo que apenas tenhamos sido capazes de escrever nove músicas em quatro anos (gravamos duas músicas adicionais mas decidimos não as incluir no álbum). Não soa como uma banda profissional, mas como disse anteriormente, não me considero um músico profissional. Mas durante esses quatro anos estive sempre confiante que, independentemente de quando tivéssemos o disco pronto, seria a melhor coisa que alguma vez tivesse criado. Não sou uma pessoa muito presa ao tempo, nem acho que a música dos Subaudition seja temporal. Quero dizer, estou mais interessado em elevar os Subaudition a um patamar superior ao criar a melhor música possível e não o maior número de músicas possível. A qualidade é sempre preferível à quantidade, e acredito que isto é também algo que nos diferencia de muitas outras bandas similares.
Como é que normalmente compõem? É algo que fazem juntos, ou cada um faz o seu trabalho de forma isolada?
Para o nosso disco de estreia a maioria do material foi feita em conjunto do início ao fim, enquanto que em “Light On The Path” compusemos a estrutura de cada música individualmente antes de nos juntarmos para criar os arranjos. Mas penso que são os arranjos que realmente fazem a diferença numa música, por isso este disco deve ser também considerado um trabalho em conjunto. Além disso, para nós não interessa quem faz o quê na banda, os Subaudition não servem grandes egos. Temos objectivos maiores do que apenas satisfazerem os nossos míseros egos.
Agora que têm o trabalho final nas vossas mãos, quão orgulhosos estão dele? Captura todas as emoções e sentimentos que estavam na vossa mente enquanto o criavam?
Sim, realmente captura. “Light On The Path” é o nosso absoluto pico criativo até ao momento. É provavelmente o maior feito da minha vida até agora, por isso estou extremamente orgulhoso do que conseguimos com o disco. Até este momento não consigo encontrar nada que quisesse alterar no álbum, o que é também um muito bom sinal.
Há algum conceito por detrás das letras ou do próprio disco?
Não é um álbum conceptual propriamente dito, mas parece que volto sempre aos mesmos assuntos nas minhas letras, por isso há definitivamente uma ligação aí. Oportunidades perdidas, morte e espiritualidade parecem ser os temas que tendo a usar nas minhas letras. Pessoalmente, acho que o conceito por detrás do álbum é a transcendência, quer a do dia-a-dia quer a um nível mais espiritual.
Quais são as vossas principais inspirações ao criar música?
Sou inspirado por um enorme número de coisas: diferentes tipos de música e desporto (especialmente jogging) por exemplo. No entanto vejo inspiração e influência como duas coisas diferentes. Quero dizer, não sei como uma pessoa pode ser musicalmente influenciada pela natureza, por exemplo. Talvez a natureza cante uma música para alguém, mas para mim a natureza no seu melhor é um lugar de tranquilidade. Musicalmente, a maior inspiração para “Light On The Path” foi o compositor Estónio Arvo Pärt, embora não saiba quanta dessa inspiração possa ser ouvida na música. Para mim a sua música define transcendência e catarse como ninguém (talvez com excepção da nossa própria música). Gostaria no entanto de saber qual é a minha verdadeira fonte de inspiração… aquilo que faz o sangue correr-me pelas veias quando o sentimento de euforia toma posse de mim ao compor para os Subaudition. Sei apenas que é algo maior do que qualquer coisa deste mundo.
O que mais me agrada é a vossa capacidade de criar verdadeira melodia e sentimento na forma de música – como são capazes de o fazer?
Como disse anteriormente, também não sei propriamente como as nossas músicas ganham vida. Para mim, a maioria das coisas com os Subaudition apenas acontecem… Mas acho que realmente se deve ao facto de deixarmos a música fluir de nós naturalmente e tentarmos mantê-la tão honesta e pura quanto possível. De um ponto de vista teórico, a nossa música é provavelmente ou muito estranha ou muito básica, mas não queremos saber de teoria quando escrevemos música. Se soa bem, e se soa correcto, então é perfeito para os Subaudition. Não racionalizamos ou teorizamos a nossa música demasiado. Isso retiraria provavelmente a maior parte da sua honestidade ou emoção.
A tua voz soa-me também como das melhores que jamais ouvi neste género – é algo intencional ou apenas o que sai da tua garganta?
Definitivamente apenas o que sai da minha garganta. [risos] Não tenho qualquer educação em termos vocais. Sinto-me honrado com o teu elogio, embora na minha opinião ainda tenha muito que aprender e melhorar no que diz respeito a cantar. No entanto, sempre quisemos que as vocalizações fossem mais um instrumento como as guitarras, os teclados, e por aí adiante, e isso é algo que faz com que a minha aproximação vocal seja essa.
Algumas partes mais intensas (como no início de “Feathers Fall”) lembram-me o trabalho de Danny Cavanagh – achas que a sua voz é algum tipo de referência para os Subaudition?
Devo dizer que sempre preferi as vocalizações do Vincent [NT: vocalista principal dos Anathema] às do Danny, mas ser comparado a qualquer um deles é uma honra, sem dúvida. O Vincent é um dos meus vocalistas preferidos desde que ouvi pela primeira vez Anathema no disco “Alternative 4”. O que eu procuro nos vocalistas é quão bem eles se enquadram e misturam na música que a sua banda toca. Não estou interessado no lado técnico de cantar, apenas na profundidade e emoção da voz.
Tocam todos os instrumentos presentes no disco, ou têm alguns convidados?
No disco tivemos alguns convidados nas cordas e nas vocalizações de fundo. Tivemos o Ville Rauhala no baixo, o Jussi Suonikko no violino, o Ilari Autio no violoncelo e o Juha Timonen nas vocalizações adicionais. Todos eles são pessoas que conhecemos aqui na cidade onde vivemos, Tampere. Tudo o resto foi tocado por nós. Mas nos Subaudition realmente não interessa quem toca o quê. Nesse sentido somos mais um colectivo do que uma banda porque queremos sempre que sejam as músicas a decidir que tipo de instrumentação é que necessitam. Por vezes apenas piano e voz são suficientes, outras vezes é necessário todo um grupo de músicos convidados.
Vocês citam alguns nomes como influências, desde Anathema até The Gathering, Katatonia ou Tenhi – o que têm em comum com eles?
Especialmente com certos discos mais antigos, como “Alternative 4”, “Mandylion”, “Discouraged Ones” ou “Kauan”, para mim essas bandas sempre foram extremamente sensíveis e sempre tentaram propagar emoção e sentimento antes de tudo o resto na sua música. Infelizmente, algumas dessas bandas, particularmente os Katatonia, tornaram-se mais interessadas em ser progressivas e mais acessíveis em vez de escrever música vinda directamente do coração. Isso é algo que por vezes acontece quando te tornas um músico profissional, e é por causa disso que eu não quero que os Subaudition se tornem um emprego para nós. Para nós Subaudition é apenas destinado a cantar e tocar o que vai na nossa alma.
E o que achas que fazem melhor?
Não sei o que fazemos melhor do que essas bandas, certamente que também não vês música como uma competição, certo? Mas uma coisa que certamente nos diferencia, e na minha opinião para melhor, é a nossa abordagem totalmente intuitiva devido à total falta de conhecimento de qualquer teoria musical.
E como tem sido a reacção ao disco até agora?
Ainda não vimos uma única análise, mas os comentários que tenho recebido de pessoas que ouviram pelo menos algumas músicas são muito positivos. Estamos bastante confiantes que fizemos um grande disco e espero que o feedback que recebamos seja alinhado com isso.
Porque é que tantas bandas Finlandesas exploram esta sonoridade melancólica? O que há na Finlândia que pode explicar isso?
Realmente não sei. [risos] Algumas pessoas dizem que são os longos, escuros e frios Invernos, mas também temos alguns meses no Verão em que o sol só se põe poucas horas à noite. Pelo menos eu também me sinto inspirado pelos Invernos sombrios, isso não é o motivo pelo qual sou melancólico. Acho que existe alguma coisa como um pessimismo ou um sentimento de perca enraizado no nosso sangue. Os Finlandeses sempre estiveram na mó de baixo, seja com o reinado Sueco ou Russo, ou agora sob o domínio da União Europeia. Independentemente do quanto tenhamos combatido, sempre perdemos as guerras em que nos envolvemos. E como recompensa de grandes batalhas contra todas as probabilidades (como na 2ª Guerra Mundial), territórios como a Karalia foram-nos roubados após a guerra. Estou só a teorizar aqui… mas pode ser uma das muitas razões por detrás desse sentimento de perca que está presente na música de muitas bandas Finlandesas. Há também algo na música tradicional Finlandesa que não tem correspondência na sua melancolia com a música tradicional de outros países, e isso pode ser outra razão.
Quais são os vossos planos para levar este disco para o palco?
Infelizmente ainda só temos três concertos na Finlândia marcados. Tínhamos planos para uma tour Europeia no início da Primavera de 2010, mas esses planos não se concretizaram. Neste momento estamos a ensaiar para esses concertos na Finlândia com um alinhamento de quatro músicos no total. Acredito que vão ser bons espectáculos, até porque os Antimatter se vão juntar a nós. De qualquer forma, se alguém nos apresentar planos para uma tour Europeia que se enquadre na nossa agenda, estaremos sem dúvida interessados.
Portanto não há ainda planos para visitarem Portugal no futuro próximo… o que conhecem sobre o nosso país?
Infelizmente não temos planos nem para visitar Portugal nem qualquer outro país num futuro próximo. Não conheço muito do vosso país, apesar de ter passado umas férias no Algarve há uns dez anos atrás. No entanto era um daqueles destinos turísticos, por isso não posso dizer que tenha aprendido muito sobre a cultura Portuguesa. E era também muito novo na altura, tinha cerca de 15 anos. Mas claro que conheço algumas boas bandas de Portugal, com os Moonspell à cabeça, e também acompanho futebol por isso sei bem que há muitos futebolistas excelentes oriundos daí. O que é curioso é que já respondemos a algumas entrevistas sobre “Light On The Path” vindas daí de Portugal, e o vosso país é certamente um daqueles locais na Europa que adorava visitar no futuro – espero que seja com os Subaudition!
A vossa carreira tem sido sempre ascendente desde o início – quais são os próximos passos e até onde acham que podem ir?
Acho que não temos limite até onde podemos ir, porque não nos limitamos de qualquer forma. Espero que muita gente nos descubra com “Light On The Path”, e espero que o próximo passo seja levar o disco numa tour Europeia, vamos sem dúvida empenhar-nos para que isso aconteça. Para além disso honestamente não sei. Eventualmente outro disco, claro, mas não o vejo acontecer nos próximos dois anos, pelo menos.
Lurker
[website:
http://www.myspace.com/subauditionfinland]