domingo, 23 de janeiro de 2011

[OPINIÃO] Qual será a causa desta doença?

Onde é que demos a curva errada? Quando é que fizemos um zig quando devíamos ter feito um zag? Como é que acabamos neste estado lastimável?

Quem me conhece sabe que não é meu apanágio denegrir o meu país - na verdade, tenho orgulho em ser Português. Já mais de uma vez tive a oportunidade de emigrar, e sempre recusei porque quero fazer mais e melhor em Portugal. Mas depois de ver os resultados das Presidenciais 2011, confesso que fiquei triste com o estado em que o nosso país está.

Não tem nada a ver com os votos nos candidatos, este não é um blog de política. Tem a ver com a mais de metade da população nacional que decidiu não comparecer nas urnas. A política só nos pode deixar frustrados, pelo menos a que temos assistido regularmente nos últimos anos. Mas não fazer nada para o alterar certamente não vai dar resultado.

Dou por mim a pensar: precisaremos de uma nova ditadura? Quando mais de metade dos Portugueses decide que não vale a pena gastar alguns minutos na eleição para a Presidência da República (que, aliás, acontece de 5 em 5 anos), alguma coisa está errada. Deixamos de ser um povo que dominou o mundo para ser um povo que é dominado pelo mundo. Vassalos, em vez de senhores. Derrotados, em vez de vencedores. Seguidores, em vez de líderes.

Hoje não há vencedores. A Democracia perdeu um bocadinho mais da sua credibilidade, e talvez seja altura de a deixar ir descansar um bocado para recuperar forças. Mas, acima de tudo, perdemos todos também. Desculpem o desabafo, mas hoje não me apetece ouvir música...

Lurker.

3 comentários:

hypognosis disse...

Não deves recear discutir este facto - TUDO é político.

A causa é apenas a cobardia de quem recusa terminantemente e com pavor a mudança, e se deixa afundar no abismo do conformismo. Também a ignorância de quem o é e quer continuar a ser, independentemente de se consolar com saudosismos de ditaduras que mais mal fizeram do que bem; (não esquecer: conforme saíram os resultados das eleições, saiu uma notícia na TSF ao mesmo tempo de título "1 milhão de analfabetos em Portugal" - em quem votam eles, pergunto). É, isto, admissível num país que se presume desenvolvido? Mas mais ainda culpo os cobardes, conformistas, e ignorantes, que preferem viver (e isso é viver? ou apenas esperar passivamente pela morte?) acomodados no medo da mudança, tremendo a cada murmúrio de revolução iminente, acobardados perante a visão da liberdade que se oferece de cada vez que a esperança existe (para quem a conhece). Os mesmos que falam tanto de "camaradismo" quando no passado deixaram camaradas que lhes protegeram os segredos, para trás na abeira dos caminhos. Os mesmos que são indiferentes a este ou aquele líder inútil subir ao poder. Se retiram o fantoche e colocam outro fantoche, continua tudo bem. E por último mas não menos importante: culpo os governantes, a sua presunção de que a sua inutilidade alguma vez vai salvar o país, mas sempre, sempre, homens ineptos, projectos de líderes vãos e arrogantemente resolutos.

Hyaena Reich

Nova Casa Portuguesa disse...

A realidade é que Portugal nunca foi nem nunca será um povo capaz de viver em democracia. Sempre fomos um povo de líderes incontestáveis, capazes de conduzir a grande massa humana e espiritual a bom porto.
Não se trata de esquerdas, centros ou direitas. Trata-se de um povo, uma cultura, uma história... Honrar os de ontem é preservar o amanhã.
Felizmente, aproxima-se o fim dos falsos filantropismos impostos pelo que corrompem e degeneram. Mudar este regime será apenas o primeiro passo, seguindo-se a perseguição de todos os que ao longo dos últimos 35 anos têm traído os quase 900 anos da Nossa História.

Lurker disse...

Não é uma questão de receio, é mais uma questão de pudor - não quero de facto misturar política e música. Já me tentaram arrastar para isso uma vez e as consequências não foram bonitas, garantidamente é algo que não quero repetir.

Mas a apatia é de facto desconcertante. Ver tantos abdicarem de tudo aquilo que os torna indivíduos deixa-me perplexo hoje, como sempre me deixou. Poderá ser de facto uma questão cultural, talvez sejamos um povo de imensos seguidores perdido sem um líder que os guie - de qualquer forma, não deixa de ser sempre uma opção pessoal, e aqui a questão é precisamente a ausência de algo palpável a que possamos chamar futuro.

Nesta altura do campeonato, qualquer ditadura seria bem-vinda: comunista, fascista, religiosa ou outra. Quanto mais não fosse teria o condão de nos tirar do marasmo a que estamos sujeitos. Já o outro dizia: "não acredito numa democracia instaurada por uma revolução sem sangue". Se calhar tinha razão...