terça-feira, 15 de maio de 2007

[ANÁLISE] Dwelling - Ainda É Noite


DWELLING
Ainda É Noite

Equilibrium Music
Classificação: 7,5/10
Web: www.dwelling.equilibriummusic.com
Email: dwelling@equilibriummusic.com


Quatro anos depois de”Humana”, os Dwelling regressam às edições com “Ainda É Noite”. Depois de tão largo interregno, e de terem passado boa parte dos últimos dois anos na preparação deste trabalho, a expectativa era alta para perceber que proposta nos trazia o (agora) sexteto em 2007. Depois de algum tempo a conviver com as 11 faixas de “Ainda É Noite”, pode-se dizer que essa expectativa não foi defraudada.

Tal como o próprio título indica, este é um trabalho fortemente enraízado na ambiência nocturna, talvez até boémia, trazendo à memória ambientes fumarentos de cabarets e casas de fado da capital do século passado. Todo o artwork nos remete também para a sensualidade feminina, o que condiz com a voz singular de Catarina Raposo. Os Dwelling de 2007 são uma mescla de Fado e Jazz, uma sonoridade agri-doce que consegue envolver-nos numa profunda melancolia – fruto das texturas habilmente tecidas nas guitarras clássica e portuguesa por Moritz Branco e Nuno Roberto – mas também despertar-nos dessa letargia com ritmos mais jazzísticos, onde a componente mais grave do som de Jaime Ferreira assume uma maior preponderância. Transversal a todas as composições temos o par de violinos, cortesia de Sílvia Freitas e Alexandra Bochmann, alternando a preponderância dos holofotes com a sub-reptícia escondida nas restantes paisagens sonoras.

Também se fazem notar as diferenças nas músicas cantadas em língua nacional – mais propensas a momentos introspectivos, como na faixa “Sou Eu!” com letra de Florbela Espanca – e nas músicas interpretadas em Inglês –musicalmente mais directas. Esta simbiose entre o barroco nacional e o cosmopolita internacional é feita de uma forma interessante, sem vincar demasiado os sulcos da diferença sonora. Parece evidente que é no primeiro ambiente que os Dwelling se sentem mais à vontade, mas a presença do segundo acaba por fazer de “Ainda É Noite” um registo bastante equilibrado e refrescante.

Sendo uma banda puramente acústica, os Dwelling expõem muito mais a sua sonoridade – despidos de adicionantes e emulsionantes artificiais, é a sua habilidade técnica que vem naturalmente ao de cima e que acaba por fazer a diferença nos pormenores (como nos arranjos bem trabalhados ou passagens muito bem conseguidas). Acima de tudo, é o ambiente intimista que acaba por ficar connosco depois de extintas as notas de cada instumento que torna “Ainda É Noite” uma experiência deliciosa, que vale a pena repetir em qualquer altura do dia.

Lurker

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