[ANÁLISE] Changes - "Lament" [CD - 2010]
Lament [CD]
Hau Ruck!
Os Changes são uma instituição. Assim mesmo, sem prefixos ou sufixos, subterfúgios, complementos ou piadas mais ou menos irónicas. Robert Taylor e Nicholas Tesluk formaram os Changes em 1969, ou seja, há mais de 40 anos (!) e continuam na sua senda musical com a mesma energia de sempre. Senda essa que tem mais um capítulo neste "Lament", um disco que, como vamos poder entender, faz juz a tão grandioso legado.
O duo norte-americano é em si um paradigma: criam música extraordinariamente simples, mas com uma profundidade ímpar; têm em conjunto mais de 100 anos de vida, mas apelam a todo o tipo de público; têm 40 anos de carreira, mas uma energia de quem tem algo a provar. E se calhar são nestes pequenos paradoxos que se encontra a magia dos Changes. Uma guitarra acústica, voz e alguns ocasionais elementos adicionais (como flautas e afins) é tudo o que precisam para destilar alguma da melhor música que emergiu do panorama (Neo)Folk de sempre. E "Lament" enquadra-se precisamente nesta descrição.
O disco está composto como se de uma história se tratasse. Abre com um instrumental, como um prelúdio para o que virá a seguir, e as suas faixas são entremeadas com narrações (cortesia de Axel Frank dos Werkraum) que acompanham o ouvinte na sua viagem. Tudo o que começa acaba, e na última música é o narrador que nos dá as despedidas, apenas para nos convidar a repetir novamente a experiência - o que fazemos com grande prazer, claro está. Mas tudo seria apenas curioso se a música - o que realmente importa - não estivesse à altura. Felizmente que é o caso contrário, já que é nas músicas que reside a força deste disco.
Desde "Lament - Flying" até "The End Of The Road", somos deleitados com um dedilhar de guitarra acústica que nos faz lembrar que não é a complexidade que faz músicas memoráveis, mas sim a capacidade de nos entrelaçar com as notas que saem do instrumento numa harmonia que parece perfeita. E as vocalizações, inconfundíveis e genuínas, perfeitamente enquadradas nas músicas que ouvimos. Grandes músicas umas atrás das outras, mais melancólicas (como em "The Saddest Thing") ou mais vibrantes (como em "The Invisible Man"), sempre com um espírito puro e selvagem que não se consegue explicar por palavras, mas que se sente na música - como se Robert e Nicholas estivessem ao nosso lado, a contar-nos mais uma das suas histórias ao ouvido, e a transportar-nos para um mundo em que tudo parece mais simples, mais natural.
Uma outra curiosidade do disco é "Mountains Of Sorrow", em que a típica sonoridade Der Blutharsch (do "Flying High!", note-se) nos apresenta uma colaboração muito bem conseguida, que apesar de destoar a nível sonoro do resto do disco, funciona como um interessante interlúdio no primeiro terço do trabalho. Se calhar faz falta um outro semelhante lá mais para o final, para criar uma espécie de simetria na composição, mas é um pormenor que pouco interessa.
"Lament" não é um disco inovador, desafiante até, daqueles que nos fazem andar à procura dos detalhes escondidos na composição. É um disco simples, honesto, mas que tem algo que falta a muitos outros - verdadeiras canções. Daquelas que não nos cansamos de ouvir, de repetir, porque têm o condão de serem tão bem compostas que resistem perfeitamente à passagem do tempo, às múltiplas audições, e vão crescendo até se tornarem parte do nosso dia. Daquelas que trauteamos inconscientemente.
Os Changes merecem todo o respeito, e "Lament" reforça esse sentimento - um dos discos do ano, de uma instituição viva que promete ainda ter muito para nos dar.
Lurker
Hau Ruck!
Os Changes são uma instituição. Assim mesmo, sem prefixos ou sufixos, subterfúgios, complementos ou piadas mais ou menos irónicas. Robert Taylor e Nicholas Tesluk formaram os Changes em 1969, ou seja, há mais de 40 anos (!) e continuam na sua senda musical com a mesma energia de sempre. Senda essa que tem mais um capítulo neste "Lament", um disco que, como vamos poder entender, faz juz a tão grandioso legado.
O duo norte-americano é em si um paradigma: criam música extraordinariamente simples, mas com uma profundidade ímpar; têm em conjunto mais de 100 anos de vida, mas apelam a todo o tipo de público; têm 40 anos de carreira, mas uma energia de quem tem algo a provar. E se calhar são nestes pequenos paradoxos que se encontra a magia dos Changes. Uma guitarra acústica, voz e alguns ocasionais elementos adicionais (como flautas e afins) é tudo o que precisam para destilar alguma da melhor música que emergiu do panorama (Neo)Folk de sempre. E "Lament" enquadra-se precisamente nesta descrição.
O disco está composto como se de uma história se tratasse. Abre com um instrumental, como um prelúdio para o que virá a seguir, e as suas faixas são entremeadas com narrações (cortesia de Axel Frank dos Werkraum) que acompanham o ouvinte na sua viagem. Tudo o que começa acaba, e na última música é o narrador que nos dá as despedidas, apenas para nos convidar a repetir novamente a experiência - o que fazemos com grande prazer, claro está. Mas tudo seria apenas curioso se a música - o que realmente importa - não estivesse à altura. Felizmente que é o caso contrário, já que é nas músicas que reside a força deste disco.
Desde "Lament - Flying" até "The End Of The Road", somos deleitados com um dedilhar de guitarra acústica que nos faz lembrar que não é a complexidade que faz músicas memoráveis, mas sim a capacidade de nos entrelaçar com as notas que saem do instrumento numa harmonia que parece perfeita. E as vocalizações, inconfundíveis e genuínas, perfeitamente enquadradas nas músicas que ouvimos. Grandes músicas umas atrás das outras, mais melancólicas (como em "The Saddest Thing") ou mais vibrantes (como em "The Invisible Man"), sempre com um espírito puro e selvagem que não se consegue explicar por palavras, mas que se sente na música - como se Robert e Nicholas estivessem ao nosso lado, a contar-nos mais uma das suas histórias ao ouvido, e a transportar-nos para um mundo em que tudo parece mais simples, mais natural.
Uma outra curiosidade do disco é "Mountains Of Sorrow", em que a típica sonoridade Der Blutharsch (do "Flying High!", note-se) nos apresenta uma colaboração muito bem conseguida, que apesar de destoar a nível sonoro do resto do disco, funciona como um interessante interlúdio no primeiro terço do trabalho. Se calhar faz falta um outro semelhante lá mais para o final, para criar uma espécie de simetria na composição, mas é um pormenor que pouco interessa.
"Lament" não é um disco inovador, desafiante até, daqueles que nos fazem andar à procura dos detalhes escondidos na composição. É um disco simples, honesto, mas que tem algo que falta a muitos outros - verdadeiras canções. Daquelas que não nos cansamos de ouvir, de repetir, porque têm o condão de serem tão bem compostas que resistem perfeitamente à passagem do tempo, às múltiplas audições, e vão crescendo até se tornarem parte do nosso dia. Daquelas que trauteamos inconscientemente.
Os Changes merecem todo o respeito, e "Lament" reforça esse sentimento - um dos discos do ano, de uma instituição viva que promete ainda ter muito para nos dar.
Lurker
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