[EVENTO] Die Weisse Rose, Wertham, Stalker Vitki - Colares, Sintra - 20/12/2008
EVENTO: Die Weisse Rose, Wertham, Stalker Vitki
LOCAL: Sociedade União Colarense, Colares, Sintra
DATA: 20 de Dezembro de 2008, 21:00
A melhor forma de acabar um ano é rodeado de amigos, e foi precisamente isso que no fim-de-semana passado aconteceu em Colares - amigos que se reúnem para criar música de qualidade superior e partilhá-la com outros amigos.
Tudo isto não apenas devido aos cinco músicos que marcaram presença em Sintra, mas também ao ambiente que se viveu durante toda a noite, a começar logo pelo jantar com músicos, convidados e público que todos puderam desfrutar. Uma iniciativa que me parece poderia ser repetida muitas mais vezes.
Mas a peça central do evento era mesmo o concerto agendado, que começou com uma performance bastante interessante de Stalker Vitki, da qual infelizmente não temos imagens (obrigado, tecnologia nipónica). De qualquer forma, já não víamos o Stalker há algum tempo, e foi bastante interessante apreciar a envolvência que consegue criar, uma barreira sonora orgânica criada pela fria maquinaria, mas que consegue aquecer o ambiente. Bom trabalho a nível visual também, no que foi uma constante durante toda a noite. Uma proposta que começou bastante bem as hostilidades.
E não podíamos usar outro termos para iniciar a performance de Wertham. Sempre envolto no imaginário S&M de cabedal, Marco sobe ao palco acompanhado de Nicole, uma das pin-ups preferidas dos movimentos Neofolk, Industrial ou Gótico (entre outros), numa sessão de domínio que, entre chapadas e esventramentos de ursos de peluche, apresentou uma sonoridade bem abrasiva.
Depois de se livrar da máscara de cabedal que lhe tolhava a voz, Marco iniciou uma intensa actuação entre maquinarias, efeitos sonoros, visuais e uma prestação vocal visceral, como é seu apanágio, onde percorreu alguns dos melhores momentos que tem vindo a protagonizar com o seu projecto a solo.
Não houve grandes surpresas, e sentiu-se a falta de alguma reacção do público às provocações que vinham do palco (mesmo nos momentos mais físicos), mas a energia colocada na actuação não foi desperdiçada. No final, uma imagem bastante interessante de Marco sentado com os seus fetiches a seus pés, numa visão quase apocalíptica de um tresloucado que domina as suas acções. E, para quem conhece a simpatia em pessoa que é Marco, é sempre extraordinário ver a mudança radical que tem lugar quando sobe a um palco.
Mas o melhor momento da noite estava reservado para os Die Weisse Rose. Com uma estética muito particular, Thomas sobe ao palco carregando uma torcha ao som da introdução, e mantém-se em impecável pose até à sua conclusão e à chegada dos músicos que iam assegurar a percussão: Marco, Nicole e Marcel P (envolto em tantos projectos de qualidade que não vale a pena enumerá-los). Estava dado o mote.
A partir daí, foi desfilar grandes temas uns a seguir aos outros. Thomas tem uma sensibilidade particular que lhe permite criar composições alternando entre o etéreo e o intenso, que suportada por uma estética também ela bastante forte, cria o ambiente perfeito para que as músicas tenham o efeito desejado na audiência. Indiferença não será concerteza uma das reacções.
Destaque também para a prestação de Marcel, demonstrando porque é tão requisitado nos mais variados projectos, liderando com vigor uma secção rítmica bem entrosada, sentindo-se apenas a falta da guitarra para abrilhantar um pouco mais alguns temas. De qualquer forma, não hajam dúvidas que Thomas é um frontman de destaque, também um pouco surpreendente para quem o conhece pessoalmente e sabe do carácter algo tímido que apresenta.
Quando já se pensava que tudo tinha acabado, fomos surpreendidos com uma pequena actuação dos Foresta di Ferro, aproveitando a noite e os elementos presentes. Liderados por Marco, os quatro músicos interpretaram apenas três temas, mas foi o suficiente para ficarmos com uma muita boa impressão do projecto Italiano.
Para acabar a noite em beleza, Marco interpretou uma música a solo na sua língua natal, supostamente de um novo projecto que vai fazer nascer, e a julgar pelo que ouvimos, vai ser um projecto merecedor de toda a nossa atenção.
Com o adiantar da hora, a ideia de continuar a festa com uma sessão de DJ de Marcel ficou um pouco comprometida, mas não haveríamos de sair de Colares sem a novidade de um novo concerto no mesmo local, no próximo dia 2 de Janeiro, com a presença dos Blood Axis. Mantenham-se atentos às novidades, que nós faremos o mesmo!
2 comentários:
Li o texto do início ao fim, mas o que me suscita uma reacção mais imediata é a notícia do final. Deixa-me, no mínimo, extática. Obviamente que marcarei presença.
Quanto aos concertos em questão, a sensação de pena por não ter estado presente é ainda mais pungente depois de ver as fotos e ler a descrição...
Gostava de ter assistido à actuação do Stalker Vitki, é bom acompanhar os artistas, perceber se há alguma evolução em termos musicais ou de performance; lamento que não haja fotos.
Dizem a certa altura que não houve grande adesão do público, mas não referem quão "composta" estava a assistência. Se por um lado a escolha de locais como Colares e Sintra acrescem ao ambiente e contribuem para um enquadramento mais verosímil, por outro podem ser desmotivantes, pois estão mal cobertos pela rede de transportes públicos ou localizam-se em sítios mais ou menos inacessíveis (ou que dificultam a logística).
O relato da actuação de Wertham suscita-me grande curiosidade. A música e a mise-en-scène constituem um conjunto orgânico, simbiótico? ou a performance soa falsa, desconexa? Quando o Marco se transfigura em palco fá-lo de uma forma "sincera" (recordo o comentário sobre a sua timidez)?
Die Weisse Rose deve ter sido sublime, e o facto de Foresta di Ferro ter tocado faz-me sentir ainda mais triste por não ter ido.
Bom, termino este comentário que já vai por demasiado longo e desconexo; agradeço a review e espero que se sigam muitas mais. ;)
Compreendo perfeitamente o que dizes sobre a escolha de Sintra/Colares (que acaba por ser mais ou menos a mesma coisa), porque já por várias vezes pensei no mesmo: é inegável o fascínio que a envolvente tem sobre músicos e público, e pessoalmente é extremamente agradável regressar a Sintra de quando em vez, mas de facto a logística torna-se muito mais complicada.
Nessa noite estamos a falar de uma audiência de cerca de 30-35 pessoas, o que - para quem costuma frequentar os eventos da Sopro das Esferas, Dagaz, Terra Fria, Ummomento e restantes amigos - não é muito diferente do normal, mas um bocado menos do que se esperaria.
Mas, e falo por experiência própria, concertos organizados em Lisboa não têm muita mais afluência de público. Estamos a falar na casa das 50 pessoas como média habitual, das quais a maior parte começam a tornar-se conhecidos e amigos, de tanto nos vermos nos mesmos locais. Acaba por se formar um grupo bem forte e coeso, mas mesmo assim reduzido. O que é uma pena, porque os eventos que têm sido organizado ao longo dos anos em nada ficam a dever ao que se faz por essa Europa fora. De novo, falo por experiência própria.
Mas o que realmente importa é que se continuem a proporcionar excelentes oportunidades para vermos os melhores projectos neste (largo) espectro musical. Como os Wertham, onde, acredita, nada soa falso ou desconexo. Talvez seja um daqueles casos de personalidade múltipla, mas conviver alguns dias com Marco e vê-lo em palco são duas experiências totalmente diferentes. Ambas sinceras e intensas, e em palco a performance resulta bastante bem - também devido ao papel que Nicole representa, mas o holofote está todo sobre Marco, sem dúvida. A imagem final, dele sentado com Nicole e um urso estripado aos seus pés, espuma a toda a volta, faca na mão e um aspecto terrivelmente calmo, é brutal! Como se tudo o que se tivesse passado tivesse sido perfeitamente normal. Espero que em Prato seja pelo menos tão intensa a actuação.
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