[ANÁLISE] Peter Bjärgö - "A Wave Of Bitterness" [CD - 2009]
A Wave Of Bitterness [CD]
Kalinkaland Records
Peter Bjärgö esteve bastante tempo sem publicar novos trabalhos nos seus mais conhecidos projectos. O último de Sophia data de 2003, os Arcana estiveram 4 anos parados até lançarem "Raspail" em 2008 e o seu último trabalho a solo datava já de 2005. Ou seja, nos últimos quase 5 anos Peter criou apenas um disco - mas, aparentemente, esta paragem só o fez regressar com mais força.
Depois da boa indicação com "Raspail", "A Wave Of Bitterness" confirma a anterior afirmação. Este seu segundo trabalho a solo é também o melhor, mas a principal nota de destaque é que é um dos melhores discos na carreira de Peter Bjärgö - e isso não é dizer pouco! No entanto, quando a faixa título começa a tocar, depois da primeira faixa mais atmosférica (quase como um intro), ficamos imediatamente convencidos. "A Wave Of Bitterness" é uma das melhores músicas Darkwave que tivemos o prazer de ouvir em muitos anos, que não só se compara com os melhores momentos de Arcana (lá por alturas do seminal "Cantar De Procella") mas que também ombreia sem qualquer complexo de inferioridade com os pilares do estilo (leia-se, Dead Can Dance).
Apesar de não conseguir atingir a genial intensidade desta faixa, o resto do disco é uma agradável viagem. Essencialmente revolvendo em redor de ritmos hipnóticos, a voz grave de Peter ressoa como um autêntico instrumento de percussão, em momentos quase ritualistas. Delicados teclados e ambientes sintetizados são sempre a textura sonora que pinta a maior parte das faixas, com instrumentos acústicos também entremeados e sempre, omnipresente, uma qualidade de composição que não é fácil atingir e - acima de tudo - manter consistente, quer ao longo de um disco, quer ao longo de toda uma carreira. Aqui, há que tirar o chapéu a Peter e ao trabalho que tem vindo a desenvolver ao longo de muitos anos, no qual "A Wave Of Bitterness" representa mais um momento alto.
Este é um disco em que facilmente nos perdemos. Deixamo-nos arrastar pela sonoridade e damos por nós algures entre a realidade e a fantasia, onde os sonhos interagem com as visões reais numa miragem indistinguível. É uma sensação agradável, que nos faz repetir as audições, para encontrarmos mais um pormenor que passou até ali despercebido. É um disco que acaba por também crescer ao longo das várias rodagens, explanando todo o seu valor numa musicalidade suave, etérea, mas sem nunca perder intensidade. Não será um clássico intemporal, mas um belo disco com um momento nada menos que brilhante na figura da faixa título.
Lurker