A melhor forma de acabar um ano é rodeado de amigos, e foi precisamente isso que no fim-de-semana passado aconteceu em Colares - amigos que se reúnem para criar música de qualidade superior e partilhá-la com outros amigos.
Tudo isto não apenas devido aos cinco músicos que marcaram presença em Sintra, mas também ao ambiente que se viveu durante toda a noite, a começar logo pelo jantar com músicos, convidados e público que todos puderam desfrutar. Uma iniciativa que me parece poderia ser repetida muitas mais vezes.
Mas a peça central do evento era mesmo o concerto agendado, que começou com uma performance bastante interessante de Stalker Vitki, da qual infelizmente não temos imagens (obrigado, tecnologia nipónica). De qualquer forma, já não víamos o Stalker há algum tempo, e foi bastante interessante apreciar a envolvência que consegue criar, uma barreira sonora orgânica criada pela fria maquinaria, mas que consegue aquecer o ambiente. Bom trabalho a nível visual também, no que foi uma constante durante toda a noite. Uma proposta que começou bastante bem as hostilidades.
E não podíamos usar outro termos para iniciar a performance de Wertham. Sempre envolto no imaginário S&M de cabedal, Marco sobe ao palco acompanhado de Nicole, uma das
pin-ups preferidas dos movimentos Neofolk, Industrial ou Gótico (entre outros), numa sessão de domínio que, entre chapadas e esventramentos de ursos de peluche, apresentou uma sonoridade bem abrasiva.
Depois de se livrar da máscara de cabedal que lhe tolhava a voz, Marco iniciou uma intensa actuação entre maquinarias, efeitos sonoros, visuais e uma prestação vocal visceral, como é seu apanágio, onde percorreu alguns dos melhores momentos que tem vindo a protagonizar com o seu projecto a solo.
Não houve grandes surpresas, e sentiu-se a falta de alguma reacção do público às provocações que vinham do palco (mesmo nos momentos mais físicos), mas a energia colocada na actuação não foi desperdiçada. No final, uma imagem bastante interessante de Marco sentado com os seus fetiches a seus pés, numa visão quase apocalíptica de um tresloucado que domina as suas acções. E, para quem conhece a simpatia em pessoa que é Marco, é sempre extraordinário ver a mudança radical que tem lugar quando sobe a um palco.
Mas o melhor momento da noite estava reservado para os Die Weisse Rose. Com uma estética muito particular, Thomas sobe ao palco carregando uma torcha ao som da introdução, e mantém-se em impecável pose até à sua conclusão e à chegada dos músicos que iam assegurar a percussão: Marco, Nicole e Marcel P (envolto em tantos projectos de qualidade que não vale a pena enumerá-los). Estava dado o mote.
A partir daí, foi desfilar grandes temas uns a seguir aos outros. Thomas tem uma sensibilidade particular que lhe permite criar composições alternando entre o etéreo e o intenso, que suportada por uma estética também ela bastante forte, cria o ambiente perfeito para que as músicas tenham o efeito desejado na audiência. Indiferença não será concerteza uma das reacções.
Destaque também para a prestação de Marcel, demonstrando porque é tão requisitado nos mais variados projectos, liderando com vigor uma secção rítmica bem entrosada, sentindo-se apenas a falta da guitarra para abrilhantar um pouco mais alguns temas. De qualquer forma, não hajam dúvidas que Thomas é um
frontman de destaque, também um pouco surpreendente para quem o conhece pessoalmente e sabe do carácter algo tímido que apresenta.
Quando já se pensava que tudo tinha acabado, fomos surpreendidos com uma pequena actuação dos Foresta di Ferro, aproveitando a noite e os elementos presentes. Liderados por Marco, os quatro músicos interpretaram apenas três temas, mas foi o suficiente para ficarmos com uma muita boa impressão do projecto Italiano.
Para acabar a noite em beleza, Marco interpretou uma música a solo na sua língua natal, supostamente de um novo projecto que vai fazer nascer, e a julgar pelo que ouvimos, vai ser um projecto merecedor de toda a nossa atenção.
Com o adiantar da hora, a ideia de continuar a festa com uma sessão de DJ de Marcel ficou um pouco comprometida, mas não haveríamos de sair de Colares sem a novidade de um novo concerto no mesmo local, no próximo dia 2 de Janeiro, com a presença dos Blood Axis. Mantenham-se atentos às novidades, que nós faremos o mesmo!